Santos juninos

O mês de junho para nós, católicos, é marcado pelas saborosas quermesses e quitutes para vencer o frio – mas também pela comemoração litúrgica de três grandes santos: Santo Antônio (13/6), São João Batista (24/06) e São Pedro (29/06). Eles são grandes santos em vários sentidos: inspiram uma grande devoção popular, espalhada no mundo todo por meio da história da Igreja; levaram uma vida de grande santidade – mas, infelizmente, sua vida é muitas vezes grandemente ignorada pelos fiéis.

Qualquer capelinha ou oratório doméstico possui, por exemplo, uma imagem de Santo Antônio, e não faltam “rezas” para obter dele esta ou aquela graça – mas sua vida e seu ensinamento acabam sendo relegados a segundo plano… Precisamos nos recordar, no entanto, de que, quando a Igreja eleva um filho seu à glória dos altares, o principal motivo por trás da canonização é colocar aquele batizado como um exemplo de piedade para os fiéis. Por isso é tão importante nos familiarizarmos com a vida dos santos. Relembremos rapidamente, então, alguns episódios da vida destes santos juninos e algum fruto que podemos tirar para nossa meditação.

Sobre São João Batista, é interessante lembrarmos que ele é o único santo, além de Nossa Senhora, para o qual temos uma festa não só do dia de falecimento (ou entrada no céu), mas também do dia de natividade ou nascimento aqui na terra. A razão disso é que ele foi santificado ainda no útero de Santa Isabel, quando esta recebeu a visita de Maria, grávida do Menino Jesus, recém-concebido. Apoiados nesta santidade do feto João Batista, podemos contemplar a grande graça que recebe o bebê ao ser batizado: quando o padre pronuncia aquelas salutares palavras: “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, todo o plano divino de salvação se realiza, e a graça do mistério pascal é derramada realmente sobre uma alma imortal – ainda que, exteriormente, não vejamos nada de diferente…

Sobre São Pedro, há um episódio menos conhecido, que tradicionalmente acreditamos ter ocorrido no final de sua vida, quando o imperador Nero perseguia os cristãos. Conta-se que Pedro, já bastante velho, ia fugindo de Roma quando teve uma visão de Cristo ressuscitado, a quem perguntou, “Quo vadis?”, “Aonde vais, Senhor?”. E Jesus lhe teria respondido, “Vou a Roma, para ser crucificado novamente”. Pedro, então, decidiu-se a evitar a infidelidade que cometera décadas antes, na Sexta-feira da Paixão, e a abraçar, agora, até o fim, a fidelidade à missão e o martírio. Ele voltou a Roma e foi crucificado de ponta cabeça – de onde também nós podemos tirar a lição de que o seguimento de Cristo implicará, frequentemente, algum tipo de perseguição e incompreensão por parte dos homens.

De Santo Antônio, enfim, podemos pensar no episódio em que, tendo pregado sem sucesso à população de um povoado italiano, que persistia em sua infidelidade à doutrina de sempre da Igreja, o Santo dirigiu-se ao mar e pôs-se a pregar aos peixes – que acorreram em grande número a ouvi-lo, pondo suas cabeças para fora da água. A notícia sobre o milagre que acontecia à vista de todos logo se espalhou de boca em boca, e todo aquele povoado incrédulo se reuniu em volta do pregador, que os repreendia dizendo aos peixes: “Bendito seja Deus para sempre, pois mais honra lhe dão os peixes da água que os homens hereges; e melhor ouvem a sua palavra os animais sem entendimento que os infiéis dotados de razão!”. Daqui nós podemos tirar a lição de que, por vezes, o anúncio do Evangelho vai acabar desagradando ao espírito do mundo, por não ser muito “politicamente correto”. Mas, se não tivesse corrido o risco da rejeição, Santo Antônio não teria conseguido a conversão daqueles camponeses, e a salvação de suas almas.

Esforcemo-nos, portanto, em seguir um pouco mais de perto o exemplo destes santos: não apenas nas palavras, mas na vida – pois, como diz Santo Antônio, “a palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas. Diz São Gregório: ‘Há uma lei para o pregador: que faça o que prega’. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras”.

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