Viva a Mãe de Deus e nossa!

Quem foi à Missa no último sábado viu a comovente demonstração de fé e amor: por causa de Nossa Senhora Aparecida, em todas as paróquias o número de fiéis foi muito maior do que costuma ser. É claro que o melhor seria que a Santa Missa estivesse sempre cheia, pois ela é o Céu na terra, é Deus que se dá a nós e nos espera para entrar em comunhão com Ele. No entanto, existe algo de belo nesse carinho tão especial que nós temos pela Aparecida, manifestado especialmente a cada 12 de outubro, com o feriado nacional “para culto público e oficial a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil” (Lei Federal nº 6.802/80, art. 1º).

Mas por que temos esse carinho tão grande pela Aparecida? Pode-nos ajudar recordar daquela cena final do Auto da Compadecida, em que João Grilo e seus companheiros estão sendo acusados de graves pecados pelo Diabo, e perigam ser condenados ao inferno: “É João, realmente você passou da conta…”, diz-lhe Jesus. 

Mas João Grilo apela: “Eu vou pedir pra alguém que está mais perto de nós, por gente que é gente, mesmo”. É claro que Nosso Senhor era gente, era perfeito homem, igual a nós em tudo, exceto no pecado – e no entanto, era também perfeito Deus, e poderíamos talvez ficar retraídos ante sua glória divina e majestade tremenda. Jesus, então, pergunta a João Grilo: “É algum santo?”, e ele responde com candura: “O senhor não repare não, mas, de besta, eu só tenho a cara. Meu trunfo é maior que qualquer santo” – e depois de cantar uns versinhos, cai de joelhos clamando, “Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus, de Nazaré!”

A Senhora logo aparece para interceder pelos pobres pecadores, e o Diabo se inflama em sua cólera: “Grande coisa, esse chamego que ela faz pra salvar todo mundo. Termina desmoralizando tudo!”. E, então, o cangaceiro Severino – o mesmo que matara mais de 30 – leva a mão ao escapulário, como uma criancinha, acariciando a imagem da Virgem que traz no pescoço, e censura o Diabo: “Você fala assim porque nunca teve mãe!”, ao que João Grilo logo concorda: “É mesmo, um sujeito ruim desses, só sendo filho de chocadeira!”.

Aí está! Aí compreendemos porque amamos tanto a Compadecida, que entre nós chamamos de Virgem Aparecida: ela é Mãe, Mãe de Deus e Mãe nossa. Como as mães terrenas, ela envolve de afeto os que choram, consolando-os em suas dores. As criancinhas, quando tropeçam e ralam o joelho, põem-se a chorar, até que vem sua mãe e dá-lhes um beijo na ferida – e de repente a dor vai embora, os soluços se aquietam. 

Quando fazem alguma travessura e seu pai, com voz dura e cara séria, lhes dá uma bronca necessária e salutar, é a mãe que funciona como “intérprete” do amor paterno, fazendo ver aos pequenos que por detrás daquele castigo existe um verdadeiro amor, que ama a ponto de preferir o bem do filho à própria boa opinião que esse filho possa ter de si.

Quando, portanto, a vida nos pregar alguma peça, ou quando, por causa de nossa cabeça dura, precisarmos que Deus nos dê algum remédio amargo, é à Mãe que devemos correr, para que ela nos conforte com seu amparo materno, e nos assegure de que somos amados, de que o Pai do Céu nos ama muito. Amemos Maria Santíssima! Digamos-lhe, cheios de fé: “Viva a Mãe de Deus e nossa, sem pecado concebida! Viva a Virgem imaculada, a Senhora Aparecida!”

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