Quanto mais me aprofundo no estudo e na experiência de educar crianças e acompanhar famílias nesse processo, mais percebo o quanto nossa sociedade está imersa em um mar de ideologias. Ideias que foram sendo plantadas pouco a pouco no imaginário das pessoas que hoje são pais e nem sequer conseguem perceber o quanto essas ideias as afastam do verdadeiro bem de seus filhos.
Desde a ascensão das pedagogias modernas, baseadas em concepções confusas sobre o homem e seu processo de aprendizagem e aperfeiçoamento, vivemos buscando bens verdadeiros; no entanto, por meio de caminhos errôneos. Caminhos incoerentes com a natureza da pessoa e com seu processo de crescimento e aperfeiçoamento.
O intuito de formar pessoas autônomas, livres, que tenham opinião bem formada e que saibam argumentar, negociar, tomar boas decisões e, assim, fazer boas escolhas é lícito e desejável. No entanto, o que encontramos hoje são pais que acreditam que isso deva ser feito desde o início da vida, como se as crianças já tivessem capacidade para isso. Já não se vislumbra mais o fato de que ter tais habilidades e capacidades em potência não significa tê-las em ato, ou seja, ser capaz de executá-las desde o início. Alguns pais acreditam que se não negociarem com a criança desde pequena, ela não será capaz de negociar na fase adulta. Que se não derem autonomia para a criança sempre, ela se tornará alguém pouco criativa, dependente e sem iniciativa. Que se não deixarem a criança livre para ser quem é, para ser espontânea, formarão alguém inapto a fazer escolhas no futuro. Pior: vejo muitos pais preocupados que, ao exigirem obediência de seus filhos, formarão pessoas submissas, que se sujeitarão a tudo e todos sem saber lutar por suas opiniões e interesses.
Gente, tudo isso faz parte de um conjunto de ideias absolutamente desconectadas com a realidade sobre a pessoa. A realidade é que pessoas nascem débeis, inaptas a muitas coisas; no entanto, dotadas de potência para grandes aprendizagens. O objetivo educativo deve contemplar a formação de uma pessoa livre, que sabe decidir bem, que viva com autonomia etc. No entanto, isso faz parte de um processo de aprendizagem longo e árduo. Na base desse processo está a autoridade dos pais e a virtude da obediência que precisa ser suscitada na criança. Sublinho que obediência é uma virtude e, portanto, um aperfeiçoamento do ser e não algo que o limita.
Pergunto: embora a criança nasça com a potência de andar, ela só andará se for colocada em pé desde os primeiros momentos de vida? Claro que não. Aliás, isso poderá comprometer sua habilidade de caminhar no momento adequado. Como diz um amigo e educador Juliano Campanha: porque quero que meu filho dirija, coloco-o no volante quando mal alcança os pedais, senão não será capaz disso? Obviamente, NÃO. Portanto, sejamos sensatos: não faz sentido algum pensarmos que as crianças precisam negociar, criticar, transgredir, decidir, ter autonomia em tudo para que alcancem essas habilidades na vida adulta. Ao contrário, precisam e têm o direito de serem bem formadas para isso. Precisam que os pais, com sua autoridade e sabedoria sobre a vida, guiem-nas e imprimam valores, princípios, ensinem virtudes, transformem em ato as potências que têm para que, daí sim, possam chegar à plenitude de ser.
Pais, não se deixem tomar e confundir por tantas ideologias. Educar é um processo, é árduo, exige esforço e não se dá automaticamente. Empenhem-se e verão o quanto vale a pena.






