Cabe uma avaliação sobre este ano diferente, que vai caminhando para a sua conclusão. A primeira consideração, geralmente, é esta: foi um ano difícil, complicado, por causa da pandemia, que nos pegou de surpresa já nos primeiros meses e nos obrigou a refazer planejamentos e programações. Muito daquilo que tínhamos previsto para 2020 ficou no papel, sem ser realizado.
Ao lado disso, tivemos muita incerteza, angústia, sofrimento, do- ença e também morte. Chegamos ao fim do ano com quase 200 mil falecidos no Brasil em decorrência da pandemia de COVID-19, e isso não é pouco! Ano difícil para a eco- nomia, foi necessário administrar muito bem as despesas, pois as re- ceitas ficaram reduzidas para quase todos. Situação mais difícil foi a dos desempregados e subempregados, que se viram na insegurança com- pleta em relação à sua sustentação diária, além de terem de enfrentar, cada dia, o medo do contágio com o novo coronavírus e as complicações dele decorrentes.
Estamos vivos, contudo, e isso con- ta mais que todos os planos frustra- dos ou êxitos não alcançados. A vida e a saúde importam mais que tudo! E só podemos dar graças a Deus por es- tarmos com saúde e por todos os que superaram a doença e estão curados! E aos profissionais da saúde, nossos aplausos e gratidão por sua dedicação generosa. Muitos deles também fica- ram doentes e até perderam a vida na luta contra o vírus e na assistência aos doentes.
Grande foi também a onda de caridade e solidariedade que vivemos este ano. Graças a ela, muitos pobres sofreram menos e também puderam suprir suas necessidades básicas. Essa experiência mostrou que há sensibilidade social e muito sentimento bom no meio do povo, e isso é uma riqueza impagável! Oxalá isso continue e se perpetue também em “tempos normais”, concretizando-se em estruturas sociais e econômicas menos excludentes e injustas, em que haja lugar e vez para todos!
Agora nos vemos diante do recru- descimento da pandemia, talvez, a indesejada “segunda onda”, possivel- mente resultante do relaxamento dos cuidados ainda requeridos, uma vez que ainda não estamos livres do vírus maléfico! Como alguém disse: “Estamos cansados dele, mas ele ainda gosta de nós!” Como celebrar o Natal, com restrições para festas e contatos sociais? Como imaginar a festa de Natal sem reuniões familiares, ceias, distribuição de presentes, abraços e longas convivências, espalhando calor humano?
É preciso pensar em celebrar o Natal, por esta vez, deixando de lado alguns “costumes natalinos” tão caros. A saúde pede atenção, o cuidado de uns pelos outros e a responsabilidade social requerem mudanças de hábitos. Isso não significa que deixaremos de celebrar o Natal e de ex- ternar nossa alegria e os sentimentos que brotam de nossa fé cristã. É possível participar da missa, ainda que seja apenas pelos meios de comunicação ou por meios virtuais. Não deixemos de nos unir, em atitude de fé e adoração, à Igreja que celebra, proclama a Boa-Nova do Natal à humanidade, acolhendo uma vez mais o presente que Deus nos envia. Não deixemos de manifestar nossa alegria enviando mensagens de muitos modos e por meio das várias mídias às pessoas queridas. Podemos reunir os membros da família, que já vivem sob o mesmo teto, ao redor do presépio e recontar a história do Natal, en- tre orações e cânticos. E também podemos nos reunir ao redor da mesa do lar, com a certeza de que “Ele está no meio de nós”, pois o Filho de Deus veio para fazer morada entre nós.
O Papa Francisco, há poucos dias, convidou a celebrar o Natal deste ano à semelhança do primeiro Natal, na noite fria de Belém: não houve festa ruidosa, comida e bebida fartas, nem Papai Noel distribuindo presentes supérfluos… Houve apenas um casal, que acolheu um recém-nascido, numa situação muito precária, e o contemplou em silêncio. Houve luz de estrelas no céu, sem barulho de traques e foguetes, apenas melodias de anjos a cantar e pastores atentos aos sinais do céu, que acorreram para ver o que se passava. E puseram-se a contemplar, calados e maravilhados, junto com Maria e José, mais maravilhados que todos.
O Papa convidou-nos a celebrar o Natal deste ano no silêncio e na contemplação, atendo-nos ao essencial da festa, voltando nossas atenções inteiramente para o Filho de Maria, Filho de Deus, nosso irmão, Deus na medida do homem… Feliz e santo Natal para todos!