No último dia 4 de junho, iniciamos a assembleia sinodal arquidiocesana, com uma sessão dedicada à apresentação e acolhida do relatório com a síntese do trabalho já feito nas etapas anteriores do sínodo. Olhando as contribuições recolhidas no relatório, é necessário concluir que já foi percorrido um belo caminho e muitas questões foram levantadas. O relatório mostra a tomada de consciência da arquidiocese sobre sua situação religiosa e pastoral atual. A assembleia sinodal arquidiocesana precisa responder a esta pergunta básica: diante do que vimos e ouvimos, o que devemos fazer? As respostas deverão aparecer nos passos sucessivos da assembleia por meio de propostas e diretrizes, que marcarão o caminho pós-sinodal da nossa Arquidiocese. A assembleia dedicar-se-á ao discernimento sobre o tipo de respostas que o sínodo deve dar a essa pergunta.
O relatório traz um elenco enorme de carências e deficiências no processo evangelizador e pastoral, e as indicações, em geral, estão marcadas por esta linha de raciocínio: falta isso, falta mais aquilo, está mal ou inexiste ainda aquilo. E as sugestões trazem esta outra linha de raciocínio: precisa ser feito isso, mais aquilo e não deixar de fazer mais alguma coisa. Nessa lógica, poderemos ocupar-nos apenas com os
algumas tentações na vida eclesial e pastoral (cf. nºs 76-109). Queremos um Cristianismo de programas, metas e resultados, ou um Cristianismo de discipulado? A sintomas dos problemas e desafios, sem ir às causas que os desencadeiam. Corremos o risco de apresentar respostas na forma de um receituário pontual, para que alguém o ponha em prática. Será que é isso mesmo que o sínodo se propõe: elaborar uma lista de tarefas para que outros as executem? Poderemos estar apenas a reproduzir uma “pastoral de conservação”, esquecendo as urgências da “conversão pastoral”! E da “renovação missionária”.
Levanto a questão de fundo, à qual nos chama o sínodo: aonde apontam o tema e o lema? O sínodo é um “caminho feito juntos”, em comunhão. Deveríamos buscar, acima de tudo, com os processos que contribuem para fazer caminho em comunhão, e que estimulem a fazer caminho juntos. A primeira preocupação não deveria ser a preparação de receituários para que esta ou aquela pastoral seja mais eficiente, esta ou aquela instituição e organização eclesial siga mais os programas estabelecidos. O que contribui mais e melhor para a comunhão da Igreja em São Paulo, e que deveria ser assumido como propósito para toda a Arquidiocese?
Na exortação apostólica Evangelii gaudium, o Papa Francisco nos alerta contra algumas tentações na vida eclesial e pastoral (cf. nºs 76-109). Queremos um Cristianismo de programas, metas e resultados, ou um Cristianismo de discipulado? A priorização de programas sobre a dimensão discipular pode levar a uma superestruturação e a uma pesada burocratização sem alma da vida pastoral e eclesial. Pro- gramas podem ser cumpridos de maneira funcional, sem fé e sem vibração por Jesus Cristo e pela Boa-Nova do reino de Deus. E se tornarão enfadonhos e até insuportáveis. A “comunhão, conversão e renovação missionária” dependem de “evangeliza- dores com espírito” novo, voltados para o centro da vivência cristã, no discipulado de Jesus Cristo (cf. nºs 259-287).
O Documento da Conferência de Aparecida pede para mudar a lógica da “pastoral da eficiência”, para começar de novo por “reaquecer os corações”, num renovado encontro pessoal com Jesus Cristo e com a Igreja. Não mudaremos as coisas se, em primeiro lugar, não mudarmos a nós mesmos, reencontrando a motivação que está no início da nossa fé e da vida cristã. Não dá para sermos missionários, se antes não formos discípulos. Não mudaremos o estado de letargia de nossas comunidades, do clero, religiosos e leigos, e não iremos muito além de uma já conhecida pastoral de conservação do que já fazemos, se não for a partir da alegria do Evangelho.
Nosso sínodo, mais que para elaborar um sufocante receituário pastoral, é um chamado à conversão. A alma de toda pastoral deve ser a fé, a esperança e a caridade. E o agente de pastoral mais importante da Igreja é o Espírito Santo, a quem devemos sempre ouvir com atenção, seguindo com
docilidade suas inspirações. Se nos convertermos pessoal e comunitariamente a Cristo e ao Evangelho, os programas pastorais brotarão como decorrência das motivações da fé e da alegria do Evangelho. Se devemos rever e melhorar a catequese, a pastoral da liturgia, da família, dos doentes, é porque isso decorre necessariamente da experiência da fé e da vivência cristã. Se devemos estar mais atentos aos pobres e enfermos, à caridade e à justiça, não será porque consta em programas e metas a serem alcançadas, mas porque essas atitudes são coerentes com o Evangelho e o testemunho cristão. Por onde começar para superar o desencantamento com a vida cristã, com a Igreja, os Sacramentos, a Palavra de Deus, as bem-aventuranças, os mandamentos, com a vocação sacerdotal e a consagração religiosa, com o casamento e a família, com a missão? No texto do Apocalipse, lido e meditado na primeira sessão da assembleia sinodal, a comunidade de Éfeso é chamada a superar o esfriamento na fé e na vida cristã e a “voltar ao primeiro amor”, à origem da existência cristã, à experiência do amor de Deus, por meio de Jesus Cristo, no dom do Espírito Santo. Que fazer? Por onde começar?