Falando para católicos: Creio na Igreja Católica

Lê-se, por vezes, que a Igreja Católica começou a existir quando o imperador Constantino uniu a religião cristã ao império romano, tornando a Igreja “católica” a religião oficial do império. Há diversos erros históricos e teológicos nessas afirmações.

De fato, Constantino (272-337 d.C.) foi quem deu a liberdade aos cristãos em todo o império, mediante o edito de Milão (313 d.C.), depois de longas e duras perseguições infligidas a eles por diversos imperadores, antes dele. Muitos anos depois, foi o imperador Teodósio I, já como chefe do império romano do Oriente, em Constantinopla, atual cidade de Istambul, quem tornou o Cristianismo (não o catolicismo) religião oficial no seu império, mediante o edito de Tessalônica (380 d.C.).

Mas antes disso, a Igreja Católica já existia, sendo simplesmente identificada com o próprio Cristianismo. Santo Inácio de Antioquia (68-107 d.C.), já no final do primeiro século do Cristianismo, refere-se à Igreja de Cristo como “católica”. O conceito “católico”, atribuído à Igreja de Cristo, significa universal, integral, e se refere à “totalidade”, em dois sentidos: porque nela está a integralidade do mistério da fé a ser crido e vivido e a plenitude, e não apenas parte, dos meios de salvação deixados por Cristo à comunidade dos discípulos. Ela também é católica por ter sido enviada por Jesus Cristo a todos e à universalidade do gênero humano.

É absolutamente falso, e não conforme à verdade histórica, estabelecer uma descontinuidade entre a Igreja cristã da era apostólica e o início da Igreja Católica, como se esta tivesse sido uma derivação posterior do Cristianismo originário. A Igreja de Cristo é católica desde a sua origem e por sua própria natureza e vocação. Jesus enviou os Apóstolos a todos os povos, sem excluir nenhum. A Igreja de Cristo não tem restrições de caráter étnico, racial, cultural, social e até religioso. Na intenção de Jesus, ela é portadora e testemunha da Boa-Nova da salvação para todos.

Com isso, não se afirma que a Igreja Católica já teve a configuração institucional atual desde o início. É evidente que ela conheceu diversos períodos de evolução institucional e organizativa. Porém, as configurações históricas e as crises que enfrentou ao longo de sua história bimilenar não a desviaram da sua essência, que consiste na profissão da fé apostólica completa, a vida sacramental integral e o ministério ordenado na sucessão apostólica. A Igreja é católica também porque não se destina apenas a um grupo de perfeitos, separados dos pecadores. Ela convoca e acolhe também os pecadores, mostrando-lhes o caminho da conversão a Deus e ao Evangelho. E tem consciência de que, neste mundo, seus membros ainda não são confirmados santidade e perfeição. Por isso, ela os chama constantemente a crescerem em santidade, mediante a vida segundo o Evangelho (cf. Catecismo da Igreja Católica, nºs 830-856).

É lamentável que existam também hoje grupos na própria Igreja Católica que se consideram os “católicos perfeitos” ou “a verdadeira Igreja Católica”, dando-se o direito de apontar o dedo contra os que consideram “falsos católicos” ou infiéis ao catolicismo, segundo uma certa concepção histórica e cultural, ou mesmo ideológica. Há quem também se dê a autoridade de desautorizar o próprio Papa Francisco, afirmando não ser o legítimo sucessor de São Pedro na sede de Roma e à frente da Igreja Católica “verdadeira”. São tendências cismáticas lamentáveis e perigosas, que já apareceram em outros momentos da história da Igreja. No início do segundo milênio cristão, existiu na Europa o movimento sectário dos Cátaros ou Albigenses, de tendência gnóstica e de rigorismo moral extremo. Inspirados em filosofias gnósticas, chegavam a rejeitar o casamento e a condição corporal do homem como má e fruto da obra do demônio. E rejeitavam os outros cristãos, considerados por eles como pecadores e impuros. Os Cátaros foram condenados pela Igreja como hereges, pois haviam se desviado da verdadeira fé e da Igreja Católica.

Como ter a certeza de que estamos unidos à Igreja Católica e em comunhão com ela? Antes de tudo, se aceitamos a integralidade da fé professada pela Igreja nas duas fórmulas da fé: o símbolo apostólico e o símbolo niceno-constantinopolitano. Não cabe a exclusão subjetiva de partes da fé da Igreja. Por outro lado, somos católicos, se estamos unidos sinceramente ao Papa, sucessor do Apóstolo Pedro e representante maior da Igreja Católica; e se também estamos unidos aos bispos católicos, que estão em plena comunhão com o Papa.

A melhor garantia para permanecermos em comunhão de fé com a Igreja Católica é participar regularmente de sua vida. Ninguém consegue, por muito tempo, ser católico se não participa da vida da Igreja no seu conjunto e mediante a inserção numa comunidade local concreta. A Igreja Católica não é uma instituição abstrata, mas uma comunhão de pessoas que vivem e testemunham a fé da Igreja.

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Francisco José de Freitas Timóteo
Francisco José de Freitas Timóteo
2 anos atrás

Dom Odilo, nossa Igreja precisa de forma eficaz, mostrar que o Pai está a cada dia mais interessado por nós, e a prova inequívoca disso é que enviou Seu Filho, que é a sua Palavra, que se tornou carne e habitou entre nós, em uma forma de amor até hoje nunca igualada por nenhum ser vivente, e que deixou seu Espírito Santo, para aqueles que aceitassem sua vida e querem ser recebidos por Ele do outro lado do espelho!