Ainda trazemos na lembrança o funeral de Bento XVI, celebrado no Vaticano no dia 5 de janeiro. Junto com o velório que o precedeu, foi ocasião para recordar os vários aspectos da vida, obra e testemunho do falecido Pontífice. Muitos foram os testemunhos de pessoas ilustres, de quem conviveu e trabalhou com ele e de quem o conheceu, de alguma maneira. O falecimento e o funeral foram momentos para colocar em merecida evidência os méritos de Bento XVI, que dedicou sua vida inteira ao serviço de Deus e da Igreja. As próprias críticas feitas antes ao falecido Papa foram redimensionadas.
O fato de sua renúncia ao Pontificado foi apreciado positivamente, como um gesto de grandeza, lucidez e humildade. Quando não se sentiu mais em condições de levar avante, como era preciso, a sua missão, Bento XVI renunciou para que se abrisse a possibilidade da escolha de seu sucessor. Ele colocou o bem da Igreja e de sua missão acima de seu próprio bem, de sua própria imagem e prestígio, fazendo valer o que ele próprio dissera na primeira aparição pública, depois de sua eleição, em 2005: “Sou apenas um humilde servo na vinha do Senhor”. Ele tinha a clara consciência de que Jesus Cristo é o Senhor da Igreja e que o Espírito Santo é o grande responsável pela condução dela.
No testamento espiritual, divulgado após sua morte, Bento XVI recomendou-se à oração de todos e se confiou à misericórdia do justo Juiz, sabendo que ele, como todo mortal, tinha de dar contas a Deus pelas suas decisões e ações. Ao mesmo tempo, recomendou por duas vezes: “Fiquem firmes na fé e não se deixem enganar”. Ele estava consciente dos problemas e perigos do nosso tempo, quando tantos perdem o rumo e fazem escolhas cômodas, muitas vezes contrárias à consciência e à lei de Deus. Ele que, durante seu pontificado, denunciou muitas vezes o relativismo, o individualismo e o indiferentismo como grandes perigos para o homem de hoje.
Ele mesmo dedicou toda a sua longa vida de teólogo, bispo e papa para mostrar a todos o núcleo central da fé e da vida da Igreja: Jesus Cristo, caminho, verdade e vida para todo homem neste mundo. E recordou que a missão evangelizadora da Igreja consiste em anunciar a todos o Evangelho de Cristo, “caminho, verdade e vida” para que, “crendo, tenham a vida em seu nome” (cf. Jo 20,31). Manter firme o passo e não se deixar enganar é tarefa árdua de todos os dias para cristãos e não cristãos.
Dias atrás, na festa da Epifania, circulou nas mídias sociais uma imagem criativa sobre os Reis Magos que, na sua busca do Menino de Belém, viram-se, de repente, diante de uma grande quantidade de estrelas, aparentemente iguais, indo para várias direções. Perplexos, eles exclamaram que o céu estava cheio de “fake news” e se perguntavam, qual delas seria a estrela verdadeira a seguir, para chegarem ao lugar onda havia nascido “o rei dos judeus”? A imagem faz todo o sentido para nosso tempo e para todos os tempos: diante de tantas luzes fugazes e caminhos possíveis, é preciso discernir bem para fazer as escolhas acertadas e não errar o caminho que conduz a vida ao seu destino verdadeiro.
Aos jovens, reunidos na Jornada Mundial da Juventude em Colônia (Alemanha), Bento XVI recomendou que também eles, como os Reis Magos, se deixassem conduzir pela estrela, que Deus colocou no caminho de cada um: a estrela da busca sincera da verdade, da consciência moral, da sede de justiça e de amor, do desejo natural de Deus e da felicidade; a estrela da verdade da fé cristã, do Evangelho de Jesus Cristo e da palavra da Igreja. Seguindo honestamente a luz dessa estrela, cada um pode ter a certeza de chegar a Jesus Cristo e a Deus, luz verdadeira e sol resplendente, que brilha para todos os que O buscam sinceramente.
“Não se deixem enganar, fiquem firmes na fé”, recomendou Bento XVI. A fé cristã é preciosa e precisa ser mais e mais conhecida e experimentada, para não ser deixada de lado ou trocada por propostas de vida contrárias a ela. E também é preciso ficar firmes, mesmo em meio às tempestades da vida, quando parece que a direção e a clareza do caminho se confundem diante de nós. Perseverar é preciso, também quando somos tentados a deixar o caminho de Jesus, que sempre nos faz encontrar sua cruz, para fazer escolhas cômodas e isentas da necessidade de conversão e penitência. A oração ao Espírito Santo, o apego à palavra de Deus, à fé da Igreja, à reta consciência e a confiança em Deus ajudarão a atravessar os desertos da vida, sem se perder nem desanimar. Jesus prometeu: “Quem perseverar até o fim será salvo” (Mc 13,13).
Agradecemos a Bento XVI, que nos ensinou isso durante sua vida toda com palavras e com seu testemunho pessoal e, na sua morte, nos recordou disso mais uma vez!