Há esperança!

O fim do ano se aproxima e, com ele, o tempo de fazer avaliações e balanços, mesmo que não sejam balanços comerciais ou econômicos. Tento fazer aqui um breve balanço da vida eclesial, especialmente referente à Igreja no Brasil.

Este ano foi, certamente, um ano difícil, sobretudo por causa da pandemia de COVID-19, que nos acompanhou no ano todo e arruinou relacionamentos, agendas e programas. Vivemos a experiência da nossa precariedade e da angústia diante do amanhã. Quem estava seguro de não ser infectado, mesmo tomando todas as precauções recomendadas? E, pegando a COVID-19, quem podia saber como as coisas haveriam de terminar? De fato, experimentamos nossa incapacidade diante de um mal que se difundia rapidamente e cujo agente é tão minúsculo, a ponto de sermos levados a desprezá-lo.

Quem está vivo e se encontra bem, agradeça a Deus e a tantas pessoas que fizeram a sua parte para debelar esse inimigo invisível. Ainda bem que no Brasil a vacinação avançou, apesar de alguns bolsões negacionistas, que ainda resistem à vacina. Em nossas igrejas, acompanhamos o sofrimento do povo nessa travessia para dias melhores. Houve uma enorme mobilização da caridade e da solidariedade para amparar os doentes, pobres e famintos. Nunca se distribuiu tanto alimento às pessoas desvalidas. No âmbito das comunidades eclesiais e do clero, as vítimas foram relativamente poucas, apesar de ter havido muitos infectados.

Durante este tempo, fizemos experiências pastorais novas na vida pastoral da Igreja. Fomos obrigados a usar os recursos da internet e das novas mídias sociais para manter vivas as nossas comunidades e um mínimo de atividades pastorais. Fizemos um aprendizado, nesse sentido, que nos será útil também daqui por diante. Também aprendemos a zelar mais pela nossa saúde e a dos outros. Aos poucos, a participação mais intensa e presencial nas celebrações e iniciativas pastorais está voltando. Cuidados ainda são necessários, mas nos encoraja a vacinação completa de grande parte da população.

Olhamos para o próximo ano com maior esperança e otimismo, sem baixar a guarda em relação aos prudentes cuidados, ainda necessários, para evitar o contágio e o surgimento de novos surtos da pandemia. Enquanto isso, já estão sendo retomadas as atividades do nosso sínodo arquidiocesano, sus- penso durante os dois anos da pandemia. Após a Páscoa de 2022, serão feitas algumas atividades prévias à assembleia sinodal arquidiocesana, que deverá elaborar propostas e diretrizes para que a nossa Igreja, em São Paulo, caminhe “em comunhão, conversão e renovação missionária”, lembrando que somos “testemunhas de Deus nesta cidade”.

Num horizonte mais amplo, acompanhamos o caminhar da Igreja em todo o Brasil que, em cada diocese e comunidade eclesial, se esforça por estar próxima do povo neste tempo de incertezas e sofrimentos. Na América Latina e no Caribe, durante o ano de 2021, houve a preparação e a realização da Assembleia Eclesial desta porção continental. O Papa orientou que, na comemoração dos 14 anos da Conferência de Aparecida, a Igreja em nosso continente avaliasse os frutos já produzidos por essa Conferência, mas também as lacunas e potencialidades que esse rico documento ainda tem a oferecer à vida e missão da Igreja. Após longa preparação, mediante um processo de escuta e discernimento que envolveu a Igreja de todos os países latino-americanos e caribenhos, a realização da Assembleia foi uma rica e boa experiência de Igreja “sinodal”. A iniciativa é promissora para outras semelhantes que poderão acontecer com a Igreja presente em outras partes do mundo.

Enquanto era preparada e realizada a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, o Papa Francisco convocou a Igreja inteira para o sínodo de outubro de 2023. Desde logo, a preparação daquela assembleia, já iniciada, também está sendo ocasião para uma experiência de “Igreja sinodal”, que caminha “em comunhão, missão e participação”. Isso não deveria ser visto como novidade de última hora, mas como redescoberta daquilo que a Igreja é chamada a ser, por sua própria natureza, desde o princípio. Temos, pois, um caminho promissor pela frente. Caminhemos com confiança e alegria! O Espírito Santo vai renovando a face da terra e da Igreja. Não lhe oponhamos resistência!

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