Em agosto, rezamos especialmente pelas vocações na Igreja e refletimos sobre a ação misteriosa de Deus nos chamados que faz. Uma história não é igual à outra. Nem sempre compreendemos claramente qual é a vontade de Deus a nosso respeito e, nesse caso, é importante que nos coloquemos em atitude de escuta e disponibilidade, como fizeram tantos personagens chamados por Deus na história bíblica.
O jovem Samuel ouviu a voz de Deus, mas ainda não a conhecia. Foi, então, falar com o sacerdote Eli, sábio conhecedor da voz de Deus. Eli ajudou Samuel a dar a resposta: “Fala, Senhor, teu servo escuta” (cf. 1Sm 3,9). Assim fez Maria, na cena da anunciação. O anjo Gabriel trouxe-lhe uma mensagem inesperada e totalmente singular. Ela não compreendeu e perguntou: “Como acontecerá isso?”. Depois que o anjo lhe explicou, ela respondeu: “Eu sou a serva do Senhor. Faça-se em mim o que Deus quer” (cf. Lc 1,26-38). Assim aconteceu com os apóstolos, com São Paulo e tantos outros.
A vocação é chamado e convite de Deus para uma missão. É bem compreensível que a pessoa chamada se pergunte: “Como acontecerá isso? Serei capaz de corresponder à vocação? Terei forças para perseverar e realizar a missão que me é dada?”. Uma coisa é certa: o mesmo Deus que chama, também capacita para a missão. Essa é uma questão de fé. A vocação para servir a Deus e aos irmãos é esclarecida e se fortalece no diálogo da fé, que acontece na consciência de cada um. E a missão que acompanha a vocação só é realizável mediante a sintonia e a colaboração com a graça de Deus.
A primeira leitura do 19º Domingo do Tempo Comum nos trouxe a passagem em que o profeta Elias foge da perseguição do rei. Elias denuncia a idolatria e a falsificação da religião, feita instrumento de dominação e manipulação do povo. O rei persegue e quer matar Elias, que se vê obrigado a fugir para o deserto. O sofrimento de Elias é tanto, que ele cansa, desanima e pede que Deus lhe tire a vida. Deus, porém, envia seu anjo ao profeta, com um pedaço de pão e um jarro de água. Elias ouve: “Levanta-te e come!”. Ele come e bebe, mas ainda continua fraco e desanimado. O anjo de Deus vem de novo com água e pão e lhe diz: “Levanta-te e come; tens ainda um longo caminho a percorrer”. Elias, depois de recuperar as forças, continua seu caminho pelo deserto, até chegar à “montanha de Deus, o Horeb”, onde Deus se revelou a Moisés. Subir a montanha, na Bíblia é uma expressão simbólica que significa: ir ao encontro de Deus (cf. 1Rs 19,4-8).
A história do profeta Elias retrata bem o itinerário de uma vocação. Trata-se sempre de um chamado e de uma busca para identificar e seguir a voz que chama e os caminhos que devem ser seguidos para ir ao encontro de Deus. Não raro, é preciso atravessar desertos difíceis, que podem levar ao cansaço e ao desânimo. Desistir, porém, não é a solução. Deus alimenta e dá forças para prosseguir na missão, até alcançar a meta final da vida. O que depende de nós é ouvir sempre de novo a sua voz, que se nos manifesta de muitas maneiras, e tomar o alimento que renova as forças. Alimentos são a palavra de Deus, a Eucaristia e o cultivo do encontro e da amizade com aquele que chama, é fiel e não abandona os seus amigos. Jesus é o pão da vida, que mata toda fome e concede a força de que necessitamos.
“Levanta-te e come!” Assim Deus fala também a quem hoje é chamado e se entrega à vocação e à missão. Sem o constante alimento da fé, é impossível enfrentar o caminho longo, para atravessar o deserto, subir a montanha e chegar ao encontro com Deus. O alimento restaurador não falta e a fonte da água pura está ao teu alcance. Levanta-te e come!