No dia 21 de setembro passado, completei 75 anos de idade. Foi um aniversário vivido intensamente com a arquidiocese de São Paulo e com meus familiares, que vieram de longe para viver este momento comigo. Recebi muitas manifestações de preces, amizade e carinho de bispos, padres, diáconos, religiosos e leigos, pelas quais sou imensamente grato.
Na minha ação de graças a Deus, recordei o percurso que me trouxe até aqui: meus pais e familiares, o ambiente familiar simples e sadio, feito de trabalho e fortes relações recíprocas de respeito e fraternidade. Lembrei-me das experiências da infância, no contato com a natureza, da escolinha, da igrejinha frequentada aos domingos, das vivências religiosas da infância, da entrada no seminário aos 12 anos de idade e dos formadores que marcaram positivamente a minha vida durante os 14 anos de Seminário em Curitiba. Foi um tempo que deu base sólida à formação do meu caráter e da bagagem cultural que me acompanha.
Recordei os primeiros anos de sacerdócio na diocese de Toledo (PR), à qual eu pertencia, dedicados à formação dos seminaristas e ao auxílio pastoral em paróquias. Os bispos de Toledo, Dom Armando Cirio e Dom Geraldo Majella Agnelo, foram importantes nos meus primeiros anos de sacerdócio. Tive, depois, a graça de estudar em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana, para fazer o Mestrado e Doutorado em Teologia e um Mestrado em Filosofia. Foram períodos privilegiados de amadurecimento intelectual e cultural e de vida acadêmica internacional. Voltando ao Brasil, fui encarregado de organizar e iniciar o Instituto de Teologia da Província Eclesiástica de Cascavel (PR), do qual fui diretor e no qual também lecionei.
Veio, então, um chamado inesperado para colaborar nos serviços do Dicastério para os Bispos, em Roma (1994-2002). No coração da Igreja, aprendi muito sobre a vida da Igreja como um todo. Em 2002, São João Paulo II nomeou-me Bispo Auxiliar de São Paulo, para trabalhar ao lado do Cardeal Cláudio Hummes. Eu conhecia muito pouco de São Paulo e tive de aprender muito sobre a Igreja na metrópole, sua organização, seus desafios e prioridades, seu clero, seu povo, além da lógica da cidade grande. Se Deus chama e envia, também dá os meios para desempenhar a missão. A experiência como Bispo Auxiliar, respondendo pela Região Episcopal Santana, foi boa e enriquecedora.
Mais uma vez, fora de qualquer expectativa e com pouco tempo de episcopado, fui eleito Secretário-geral da CNBB, em abril de 2003. O encargo incluía o desafio de responder pelo dia a dia da CNBB, em tempos de aplicação de um novo Estatuto e de renovação da Conferência. A experiência de dois irmãos maiores e experientes na Presidência, o cardeal Geraldo Majella Agnelo e Dom Antonio Celso de Queiroz, deu-me respaldo para o desempenho dessa missão. Foram mais 4 anos de experiências eclesiais intensas e de muito aprendizado.
Em 2007, Bento XVI nomeou-me Arcebispo de São Paulo, para suceder ao Cardeal Cláudio Hummes. A tomada de posse, em 29 de abril, antecedeu de poucos dias a chegada do Papa Bento XVI a São Paulo, para a beatificação de Santo Antônio de Sant’Anna Galvão e a abertura da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida. Tive a missão de acolher o Papa em São Paulo e de o acompanhar em seus compromissos na cidade. A Conferência de Aparecida, em que fui Secretário Adjunto, foi uma experiência eclesial memorável, que marcou profundamente a Igreja em nosso continente e no mundo inteiro. Dela participou, na condição de Arcebispo de Buenos Aires, o cardeal Jorge Mário Bergoglio, que seria eleito Papa 6 anos mais tarde. No mesmo ano de 2007, Bento XVI incluiu-me no Colégio Cardinalício, ampliando a participação nas minhas responsabilidades também com a universalidade da Igreja.
Já são mais de 22 anos de minha vida dedicados à arquidiocese de São Paulo. Quantas vivências nesta imensa, desafiadora e querida Arquidiocese! Quanta colaboração e generosidade dos Bispos Auxiliares, do clero, religiosos e leigos! O “santo povo de Deus”, presente em cada canto da cidade, testemunha que “Deus habita esta cidade”! Vivemos momentos importantes durante esse período: o Congresso de Leigos, o 1º sínodo arquidiocesano, a renovação (conversão) pastoral pós-sinodal… Mas também o falecimento de dois queridos Pastores que me precederam na Sé de São Paulo: Dom Paulo Evaristo Arns e Dom Cláudio Hummes. Quanto mais poderia ser recordado e relatado! Mas não será nestas poucas linhas; Deus o conhece! Tudo é dom, tudo é graça, que Deus seja bendito para sempre!
Ao chegar aos 75 anos de idade, os bispos devem “apresentar a renúncia do ofício ao sumo Pontífice que, ponderando todas as circunstâncias, tomará providências” (cân. 401,§1). É o que me cabe fazer. E, enquanto o Papa não tomar suas providências, a vida segue adiante. A arquidiocese de São Paulo não pode parar.
Deus seja louvado pela sua vida e ministério❤️