A experiência da Igreja sinodal, que somos chamados a fazer, envolve algumas ações importantes: ir ao encontro, ouvir, acolher, discernir, seguir em frente na missão, juntos e unidos. De fato, todas essas ações já faziam parte da Igreja apostólica, que Jesus enviou em missão, ao encontro das pessoas e dos povos, como lemos nos Evangelhos, com o envio dos discípulos, nos Atos dos Apóstolos e nas Cartas Apostólicas. O Papa Francisco está nos chamando a reencontrarmos o verdadeiro jeito de ser Igreja, muito diverso de uma Igreja estabelecida, cansada e sem dinamismo, sem vitalidade.
Foi o que o próprio Jesus também fez, como lemos no Evangelho lido no 30º Domingo do Tempo Comum, Domingo das Missões, sobre o encontro com o cego Bartimeu (Mc 10,46-52). Uma multidão acompanhava Jesus na saída de Jericó. Como observou o Papa Francisco recentemente, Jesus está sempre pelas ruas, a caminho, rodeado de gente. Não ficou atrás de uma escrivaninha, esperando que as pessoas o procurassem… Do meio do alvoroço da multidão, um cego mendigo, sentado à beira do caminho, começou a gritar: “Jesus, tem piedade de mim!”. E mandaram que se calasse, mas ele gritava ainda mais forte. E seu grito chegou aos ouvidos de Jesus, que mandou que o trouxessem para perto Dele. Quantas vezes lemos nos Salmos e nos Profetas que Deus ouve o grito dos pobres e oprimidos! Jesus faz o mesmo, porque Ele é a presença de Deus no meio dos homens.
Quantos gritos ao nosso redor, de gente angustiada, que ninguém quer ouvir?! Estamos ocupados demais e não temos tempo para ouvir os outros. Mais ainda os pobres, mendigos, pessoas que não contam para um mundo que coloca a economia de lucro e as vaidades acima do valor da pessoa. O grito dos descartados e sua própria existência são abafados e ignorados! “Quieto, não incomode, não tenho tempo, não é assunto meu!” Ficamos insensíveis e cegos e já não nos damos mais conta do grito dos necessitados e sofredores. São crianças e adolescentes com fome, sem escola e sem futuro. São jovens afundados nas drogas e vícios, adultos, pais e mães sem trabalho, passando necessidades para cuidar da família, são doentes, idosos abandonados e desinteressantes para a sociedade de consumo; são pessoas enredadas nas múltiplas formas de exploração e escravidão modernas, de pessoas, tantas vezes desorientadas, que se agarram em qualquer coisa para preencher o vazio de sua vida. São gritos no meio da multidão, que segue adiante, sem ligar para eles, abandonados à beira do caminho. Quem escuta o seu grito?
Jesus ouviu o grito do cego, chamou-o, acolheu-o, escutou-o. A pergunta ao cego, traduzida de maneira livre, significava: “Que posso fazer por você?”. Jesus bem sabia o que o mendigo cego queria e precisava, mas lhe perguntou, para dar-lhe a oportunidade de falar e expressar sua angústia e desejo: “Mestre, que eu veja!”. Jesus tratou o cego como pessoa, valorizou sua história e deu-lhe a possibilidade de compartilhar sua angústia. E isso curou não apenas a sua cegueira, mas lhe abriu os olhos à fé e mudou a vida do cego. Uma vez curado, seguiu Jesus alegremente pelo caminho. Em outras palavras, tornou-se discípulo de Jesus. A escuta sincera é uma experiência curativa para quem é escutado e também para quem escuta. Ouvir com paciência e abertura de coração, deixar o outro entrar em nossa vida e acolhê-lo na nossa experiência vivida.
A Igreja sinodal é enviada ao mundo para ouvir, acolher, compartilhar e anunciar a esperança. Na nossa Arquidiocese, já fizemos um longo e profundo processo de escuta, mediante a pesquisa feita durante o sínodo arquidiocesano, em 2018. Foram mais de 40 mil domicílios visitados, dando a oportunidade de ouvir a quem estivesse interessado. E foram mais de 21 mil formulários de escuta preenchidos, com 112 perguntas cada um, que revelaram a realidade religiosa, pastoral e social de nossa Arquidiocese. Esse processo de escuta deve agora ser retomado nesta primeira fase do sínodo universal, aberto no dia 17 de outubro. Nossa pesquisa é preciosa também para o sínodo universal. Mas, antes de tudo, a reflexão sobre ela precisa ser retomada nas paróquias e comunidades, num grande processo de discernimento, para percebermos os muitos gritos ouvidos do povo. Não podemos abafar esses gritos e seguir adiante, como se não os tivéssemos ouvido. É bom perguntar-se, agora, como Jesus fez diante do cego: Que podemos fazer? Que devemos fazer?
SIM…. mas um tanto cansados… DEUS nos fortaleça…. obrigado mestre DOM ODILO