No domingo, 14 de novembro, a Igreja comemora no mundo inteiro o 5º Dia Mundial dos Pobres, instituído pelo Papa Francisco no final do Ano da Misericórdia, em 2016. Com essa iniciativa, a Igreja é chamada a voltar os olhos para os pobres, sem se esquecer deles, conforme recomendação dada pelos apóstolos a São Paulo no Concílio Apostólico, em Jerusalém: “O que nos recomendaram foi somente que nos lembrássemos dos pobres. E isso procurei fazer sempre com toda a solicitude” (Gl 2,10).
Os pobres são uma realidade que nos questiona. Podemos ser levados facilmente a racionalizar essa realidade, fazendo estatísticas sobre o número deles, estabelecendo escalas para classificar os níveis de pobreza, ou debatendo simplesmente as causas da pobreza, divagando em discussões infinitas com viés ideológico, para justificar a pobreza, ou para instrumentalizar os pobres, como “massa de manobra” para conseguir outros objetivos. O mundo está cheio de discursos abstratos sobre as causas da pobreza. Enquanto isso, os pobres sofrem e aumentam sempre mais. Algo mais precisa ser feito. Pobre é pessoa de carne e osso, estômago vazio, sente frio, fica doente, precisa de remédio e casa, tem sentimentos e dignidade. Pobre também gosta das coisas bonitas e boas da vida…
Nunca esqueçamos que os pobres não são números, entidades abstratas ou ideias a serem debatidas. São pessoas concretas, com rosto muitas vezes desfigurado pelos sofrimentos, com necessidades físicas, intelectuais e espirituais como qualquer outro ser humano. Os pobres estão ao nosso redor, em toda parte e, talvez, nem mais nos damos conta de sua presença e de sua situação. Há muitos tipos de pobres, e todos eles nos interpelam, mesmo sem dizer palavras. Ainda vemos os pobres e lhes dirigimos uma palavra, um sorriso?
O Dia Mundial dos Pobres é uma ocasião para tomar consciência da existência dos pobres e para uma reflexão sobre as causas da pobreza e a busca de soluções para a sua situação sofrida e para o problema sempre crescente da pobreza no mundo. Nunca houve tantos pobres como hoje. Ao mesmo tempo, nunca houve tanta produção de bens e riquezas como hoje. Esse contrassenso é um escândalo, que precisa ser resolvido. Enquanto uma parte da humanidade vive na abundância e no consumismo, uma outra parte, bem maior, vive na pobreza, quando não na miséria. Há algo de muito errado nisso.
Durante a semana que precede o Dia Mundial dos Pobres, muitas iniciativas estão sendo promovidas em nossa Arquidiocese pela Caritas Arquidiocesana, as paróquias e muitas outras organizações e grupos. É hora de ir ao encontro dos pobres, ouvi-los e compreender melhor seus sofrimentos e aspirações. Mais que falar dos pobres, é preciso falar com os pobres, abrir os microfones e as filmadoras para lhes dar voz e imagem.
Graças a Deus, muitas pessoas já estão fazendo isso. Durante a pandemia de COVID-19, testemunhamos uma onda imensa de solidariedade e caridade para com os pobres. E isso não deveria mais parar, mesmo com a superação da pandemia, pois os pobres continuam entre nós, têm fome, moram na rua ou em acomodações muito pobres, estão desempregados e vivem com o mínimo de segurança alimentar e sanitária. Ao nos voltarmos para os pobres, devemos voltar-nos também para as iniciativas e organizações que se dedicam ao serviço deles. Graças a Deus, essas também são numerosas! No Dia Mundial dos Pobres, também essas organizações e iniciativas deveriam ser trazidas para o centro da cena, para receberem o apoio devido na continuidade de seu trabalho.
O Papa Francisco escolheu como tema as palavras do Evangelho: “Sempre tereis pobres entre vós” (Mc 14,7). Desde que a humanidade existe, também existem os pobres. Seria uma afirmação resignada diante de uma situação sem solução? Jesus não se enganou. Sempre haverá pobres entre nós para que cuidemos deles e pratiquemos a justiça, a solidariedade e as obras de misericórdia. Os pobres nos são entregues para que cuidemos deles e aprendamos a amar como Deus nos ama. Diante de Deus, todos nós somos pobres!