Para onde Deus nos leva?

A Solenidade da Ascensão de Jesus aos céus é um dos mistérios centrais da nossa fé. Ela revela o grande ponto de chegada da obra criadora e redentora de Deus: levar a humanidade a participar da sua glória na vida eterna. E isso já se realizou em Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem. E, é claro, pela graça de Deus, também em todos os santos e redimidos dos céus.

O mistério da Ascensão está ligado ao mistério da Encarnação, e o leva ao seu cumprimento: entrando na glória de Deus, o Filho de Deus leva consigo também a humanidade, que uniu a si pela sua “humanização”. Por isso mesmo, podemos dizer que a Ascensão de Jesus revela a grande promessa final de Deus para a humanidade. Para nós, é a celebração da esperança e daquilo que buscamos, mesmo sem o saber: chegar a Deus, estar com Ele para sempre e contemplar a sua glória.

É bem isso que expressa a liturgia da Solenidade da Ascensão. “Ó Deus, a ascensão de Jesus já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças pois, membros do seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória” (Oração do Dia). O primeiro prefácio da Ascensão proclama: “Subiu aos céus, não para se afastar de nossa humildade, mas para dar-nos a certeza de que nos conduzirá à glória da imortalidade”. E o segundo prefácio contém a afirmação da fé ainda mais profunda na redenção plena: “Ele, após a Ressurreição, apareceu aos discípulos e, à vista deles, subiu aos céus, a fim de nos tornar participantes de sua divindade”.

A Oração sobre as Oferendas, da missa da Ascensão, vai nessa mesma linha: “Concedei, por esta comunhão de bens entre o céu e a terra, que nos elevemos com Ele até à pátria celeste”. Também vai na mesma direção a Oração depois da Comunhão: “Fazei que nossos corações se voltem para o alto onde está, junto de vós, a nossa humanidade”. Em Jesus ressuscitado e glorificado, junto de Deus Pai, cada um de nós também já está representado, bem como a nossa humanidade inteira.

Foi pensando nisso que o autor da Carta aos Efésios convidou a comunidade de Éfeso à alegria e à esperança: “Que Ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos, que imenso poder Ele exerceu em favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente!” (Ef 1,18-19). São Paulo podia dizer, com toda convicção, que não colocamos a nossa esperança em Cristo apenas para esta vida (cf. 1Cor 15,19).

De fato, a fé cristã não se restringe a esta vida e às realidades que podemos experimentar neste mundo, cuja figura passa (cf. 1Cor 7,31). Anunciamos os bens eternos e a vida eterna, que já se manifestou em Jesus Cristo e da qual todos já podem ter parte mediante a fé e a adesão a Jesus Cristo Salvador. A esperança cristã é ousada e nos projeta para além dos limites deste mundo, alcançável não por mérito e realização nossa, mas por benevolência e providência de Deus, que nos chamou à existência plena, e não para a frustração dos anseios do nosso coração.

Faz bem recordar isso, que é parte da fé que proclamamos todos os domingos e se refere às realidades escatológicas. Em todas as orações eucarísticas da celebração da missa, nós pedimos, com estas ou semelhantes palavras: “Esperamos também nós participar da vida eterna…” Ou ainda: “Esperamos também nós saciarnos eternamente da vossa glória”. Talvez temos falado pouco da vida eterna e das grandes realidades da esperança cristã, bem explicadas na primeira parte do Catecismo da Igreja Católica. O Papa Bento XVI também tratou da esperança cristã na sua bela encíclica Spe salvi (Salvos na esperança).

Sem o anúncio da grande esperança cristã, corremos o risco de transformar a mensagem cristã numa utopia apenas humana e terrena, facilmente assimilada a uma ideologia política. E a própria Igreja poderia ser vista apenas como uma “ONG do bem”, como advertiu o Papa Francisco em diversas ocasiões. No entanto, a esperança cristã não nos faz estar de braços cruzados, com os olhos apenas voltados para o céu. Pelo contrário, ela é inspiradora de nossa ação para realizar bem nossa missão neste mundo e para fazer aparecer, já na vida pessoal e social, os sinais dessa esperança. Conhecer e acolher as grandes promessas de Deus é fonte de energia e dinamismo para o nosso empenho em favor da caridade, da justiça e do cuidado de tudo o que Deus colocou sob os nossos cuidados nesta vida.

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