Senhor, salva-me!

A imagem dos discípulos remando com dificuldades, de noite, na barquinha agitada pelo vento, com o risco de naufragar nas ondas do mar em tempestade, é uma parábola da nossa vida (cf Mt 14,22-33). E também representa em alegoria a vida da Igreja e da humanidade.

Jesus passara o dia ensinando ao povo, que pendia de seus lábios e não se afastava dele nem para se alimentar. Estar perto de sua pessoa dava alegria e segurança. Ouvir sua palavra era alimento que matava a fome da alma. O povo ficava maravilhado com seu ensinamento (cf Mt 7,28). E Jesus teve compaixão da multidão faminta e repartiu o pão e o peixe para saciar também a fome do corpo. E todos puderam voltar bem saciados para suas casas. Os discípulos começaram a travessia do mar, enquanto Jesus subiu ao monte para estar a sós, em oração. Mesmo com toda atividade e preocupação pelo povo, Jesus também precisou alimentar-se no encontro com Deus: sua comida consistia em fazer a vontade do Pai (cf Jo 4,34).

Era noite. Os discípulos, sozinhos no barco, remavam com dificuldades para enfrentar o vento e o mar agitado. A noite assusta e desperta os fantasmas e medos, imaginários ou reais, e nos confronta com nossas limitações. Quem somos nós para enfrentarmos sozinhos os mistérios da noite e as tempestades da vida? Precisamos de luz para nos sentirmos amparados e seguros e para não perdermos o rumo a seguir. Somos pequenos e fracos para enfrentar, apenas com nossas forças humanas, as tempestades da vida, que nos causam pavor e insegurança.

Jesus foi ao encontro dos discípulos na escuridão da noite, caminhando sobre as águas agitadas. Ele compreendeu suas dificuldades e não quis deixar que naufragassem. Mas eles, ao vê-lo, assustaram-se mais ainda, temendo ver um fantasma. E gritavam de medo. Jesus os acalmou: “Não tenhais medo! Coragem, sou eu mesmo!” E entrou no barco com eles. Ao ouvirem sua palavra, eles se acalmaram. E Jesus acalmou também o vento e o mar com sua palavra. Tudo voltou à sua paz, pois Jesus estava novamente no barco. E eles, impressionados, reconheceram: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (Mt 14,33).

Por que se assustaram os discípulos ao verem Jesus a caminhar sobre as águas agitadas? Ainda não sabiam quem Ele era? Haviam visto o milagre da multiplicação dos pães, poucas horas mais cedo, e já não se lembravam? No meio da noite escura, na tempestade que apavora, no risco de naufragar, acabamos nos esquecendo de Deus e queremos contar apenas com nossas limitadas capacidades para resolver os problemas. Não lembramos que Deus não está longe, mesmo quando coloca à prova a nossa fé e confiança, deixando-nos experimentar o pavor da noite e nosso limite. Nunca deveríamos esquecer que, quanto maiores são as dificuldades da vida, tanto mais perto Deus está para nos estender a mão. A fé e a confiança em Deus andam juntas. Não nos apavoremos! Que o digam tantos santos e santas, como São João da Cruz e Santa Teresa de Calcutá!

Pedro, ao ver Jesus a caminhar sobre as águas, também o quis fazer. E Jesus lhe disse: Vem, coragem! Por um momento, que maravilha: Pedro conseguiu! Mas quando se deu conta do que acontecia, e sentindo o vento forte e as ondas agitadas, teve medo e começou a afundar. Esqueceu que era por causa da palavra de Jesus que ele estava andando sobre as águas e, novamente, quis confiar apenas em si mesmo. E começou a afundar. Depois de experimentar as graças de Deus, podemos achar que tudo acontece por mérito nosso e, então, fracassamos. Pedro teve a humildade de reconhecer logo sua presunção e gritou: “Senhor, salva-me!” E Jesus estendeu a mão e segurou Pedro. O apóstolo é forte quando está com Jesus e conta com sua ajuda. Mas Pedro ouviu a repreensão salutar: “Por que duvidaste, homem fraco na fé?” (Mt 14,29-30).

Ao longo da história, a Igreja, “barca de Pedro”, enfrentou muitas vezes o mar agitado e tempestades de toda sorte. E ainda hoje enfrenta. Poderia parecer que ficamos sem Jesus na barca, mas nada de pavor e desespero, Ele não a abandonou por nenhum instante: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28,20). No Evangelho de São Mateus, essas são as últimas palavras de Jesus, antes de se elevar ao céu. As dificuldades enfrentadas pela barca de Pedro no mar agitado da história não nos devem levar a pensar que estamos sem o Mestre e que devemos resolver tudo sozinhos. Ele continua a nos dizer: “Coragem, sou eu mesmo. Não tenhais medo!”

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