Com o 1º Domingo do Advento, iniciamos um novo ano litúrgico. Como é sabido, este não coincide com o ano civil, mas refere-se às celebrações dos mistérios da fé da Igreja: o mistério de Deus e do homem, a criação, o chamado do primeiro povo eleito, as promessas da salvação e seu cumprimento em Jesus Cristo, o mistério da encarnação do Filho de Deus em nossa humanidade, sua Paixão, Morte e Ressurreição e Glorificação redentoras, o envio do Espírito Santo, a missão da Igreja e as realidades futuras, ou escatológicas, que ainda estão por vir.
Nossa fé cristã é muito rica e abrangente, iluminando toda a realidade da nossa existência e da existência do mundo a partir de uma luz sobrenatural. A fé é celebrada na Liturgia, ao longo de um ano inteiro, num dinamismo que nos envolve e faz entrar e participar dos mistérios da fé e da salvação, que não são “peças arqueológicas e de museu”, no dizer do Papa Francisco, mas realidades vivas e presentes ao longo do tempo e da história, para o benefício de todos os que viveram, os que vivem e os que ainda hão de viver.
O Advento inicia com uma forte recomendação de Jesus aos seus discípulos: “Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. O que vos digo, digo a todos: vigiai” (cf. Mc 13,33.37). Jesus refere-se à vinda gloriosa de Deus, no momento final, da salvação, do julgamento, do chamado a nos apresentarmos diante de Deus. Não se trata de assustar ninguém, mas de estar conscientes de que a vida tem uma meta e um objetivo final, e que não podemos nos distrair, perdendo de vista a meta e o objetivo. O contrário da vigilância seria o descuido e o modo irresponsável de viver.
Ao mesmo tempo, o texto do profeta Isaías nos recorda de que Deus é um pai misericordioso, interessado em nosso bem, que nos corrige e educa. O pecado e a infidelidade ofendem a Deus e nos expõem ao risco da perda do rumo em nossa vida. Mas Deus continua a nos atrair para si e, se permite que, longe dele, experimentemos a falta do seu amor e de seus bens, é para que, com mais desejo, voltemos a Ele e nos deixemos conduzir por Ele: “Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro, tu, nosso oleiro e, nós todos, obra de tuas mãos” (Is 64,7).
O Advento nos faz olhar para trás na história, para recordar as promessas e as misericórdias de Deus. Ele é o Deus fiel e sem falsidade, Nele podemos confiar. E nos faz olhar para a frente, em vista das suas promessas, que ainda estão abertas, à espera de se cumprirem. Por isso, preparamo-nos para ir ao seu encontro, todos os dias. De fato, o Advento refere-se à ardente espera de toda a Igreja que continua a clamar: “Maranatha, vem, Senhor Jesus, vem!”. É assim que aclamamos em cada santa missa, após a consagração: “enquanto esperamos a vossa vinda”.
Os textos da liturgia do Advento são belíssimos, fruto da experiência mística e espiritual milenar da comunidade da Igreja. A oração da Coleta do 1º Domingo do Advento, no início da missa, resume bem o significado da vivência do Advento, voltada para o futuro: “Ó Deus todo-poderoso, concedei aos vossos fiéis o ardente desejo de acorrer com boas obras ao encontro do vosso Cristo que vem, para que, colocados à sua direita, mereçam possuir o reino celeste”. O Advento não deve ser vivido apenas como preparação ao Natal, mas também como preparação para o futuro encontro definitivo com Cristo Salvador, na sua vinda gloriosa. O Senhor veio; o Senhor vem cada dia; o Senhor virá em sua glória, de modo definitivo, “para julgar vivos e mortos. E seu reino não terá fim”.
A Igreja faz algumas recomendações importantes para a vivência do Advento: a oração mais assídua e fervorosa; se possível, a participação diária na celebração da Eucaristia e a escuta atenta da palavra de Deus; os textos são um belíssimo roteiro de espiritualidade do Advento. Por outro lado, a penitência e a sincera busca da conversão a Deus e aos seus caminhos deve ter como ponto alto a Confissão sacramental e a reconciliação com Deus e os irmãos. Mas também deve ser intensa a prática da caridade fraterna e das obras de misericórdia, acolhendo a cada dia o Cristo que vem ao nosso encontro nos pobres e nos que sofrem. É importante fazer um esforço sincero na busca da reconciliação, quando for necessário e na promoção da verdadeira fraternidade e da paz. Que Ele, ao chegar, não nos encontre em brigas, guerras e ódios, mas reconciliados e em paz uns com os outros.
Durante o tempo do Advento, procuremos também criar um ambiente que testemunhe a nossa fé. As Novenas do Natal são muito recomendadas. Neste ano, comemoram-se 800 anos desde que São Francisco fez o presépio vivo em Greccio, na Itália. Ele era fascinado pela beleza, a simplicidade e a profundidade do mistério da encarnação e do nascimento humano do Filho de Deus. Fazer um presépio em cada lar católico e outros ambientes apropriados pode ser um belo testemunho da nossa fé. Convém envolver crianças, adolescentes e jovens na montagem do presépio, sobretudo nas casas. O Papa Francisco recomenda a todos os católicos que preparem um presépio em suas casas neste Advento e Natal.