O Domingo de Cristo Rei marca a conclusão do ano litúrgico e nos confronta, na simbologia dessa celebração, com o nosso futuro: para onde vamos e para onde vão a Igreja e a humanidade? Nossa vida tem uma meta, queiramos nós ou não: o encontro final com Cristo glorioso, Senhor e Juiz de nossa história e da história do mundo.
Essa também é a meta da existência da Igreja, presente no mundo e caminhando na História: chegar ao encontro do seu Senhor glorificado, prestar-Lhe contas e receber Dele a participação no “reino eterno”, com todos aqueles que já fazem parte da Igreja celeste. E, como nos recorda a boa filosofia, a meta, presente na natureza das coisas e na nossa intenção, determina o processo vital, assim como as nossas escolhas e ações. Portanto, ao olharmos para o futuro escatológico da nossa existência, somos também confrontados com o nosso caminhar diário e nossas escolhas.
A festa litúrgica de Cristo Rei traz para o centro dessa reflexão o conceito de “reino de Deus”. Jesus anunciou a chegada do reino de Deus como uma alegre e boa notícia para a humanidade. E convidou todos a acolherem esse reino, a se converterem, vivendo em conformidade com ele. Com muitas parábolas, Ele explicou como acontecem as coisas no reino de Deus e como esse reino se manifesta no meio dos homens. E desfez as falsas expectativas em relação ao reino de Deus, dizendo que ele não é identificável com os reinos do mundo, nem disputa poder com eles. A quem imaginava que o reino de Deus viria de maneira espetacular, ou por meio de um golpe de força, Jesus afirmou que o reino de Deus não virá de maneira ostensiva e que, de fato, já está no mundo e age no meio de nós.
O reino de Deus representa, pois, o bem supremo para o homem e todas as criaturas; e se faz presente no mundo quando as coisas são como Deus as quer, livres de distorções e maldades. O paraíso terrestre era a imagem do reino de Deus realizado no mundo, mas ele foi deturpado e perdido, quando o pecado entrou no mundo e o homem preferiu dar ouvidos ao Tentador, em vez de continuar a ouvir a Deus. O pecado introduziu a desordem no mundo, o “antirreino” do Maligno, o grande inimigo do reino de Deus e das criaturas.
Por aí compreendemos o convite que Jesus faz ao anunciar a boa-nova da chegada do reino de Deus: “Convertei-vos e crede no Evangelho!” A acolhida do reinado de Deus e a adesão a ele requerem mudança de vida e renúncia ao antirreino. Reino de Deus e reino do pecado não podem conviver. Jesus explica, por meio de várias parábolas, como acontecem as coisas no reino de Deus e qual deve ser a atitude daqueles que o acolhem. O reino de Deus requer vigilância constante, para não cair na tentação de abandoná-lo; requer, também, operosidade, abertura e colaboração com Deus, assimilação e vivência dos valores do reino de Deus, como a justiça, o respeito, o amor, a paz. Requer humildade e reconhecimento de que o reino é de Deus, e não somos nós os seus autores e principais protagonistas; em vez disso, somos colaboradores e servidores do reino de Cristo e de Deus.
A Igreja, formada por todos os batizados, é a comunidade dos discípulos de Cristo e testemunhas do reino de Deus no mundo. Foi para isso que Jesus chamou os discípulos e os enviou para anunciar a todos a boa-nova do reino de Deus. Esse testemunho é dado mediante as muitas expressões da vida nova que brotam do Evangelho. Também cada cristão, pessoalmente, deve dar o testemunho do reino de Deus mediante sua vida diária, nos âmbitos pessoal, social e profissional.
Assim, entendemos melhor o significado do lema do sínodo arquidiocesano: “Deus habita esta cidade. Somos suas testemunhas”. Sim, esta é nossa missão: testemunhar, de muitos modos diferentes, que o reino de Deus já está no meio de nós, oferecendo sinais de que isso é perceptível, apesar de ainda ser de modo imperfeito. Parte desse testemunho também são o anúncio explícito do Evangelho, a prática das obras de misericórdia e a vivência do espírito das bem-aventuranças. A festa de Cristo Rei nos faz olhar para o futuro e para o cotidiano de nossas vidas com novos olhos.