Vicariato da Caridade Social

Muitas propostas do 1º sínodo da arquidiocese de São Paulo (2017-2023) referem-se à caridade e às obras de misericórdia. Foi constatado que já existem muitas e belas iniciativas de caridade social nas paróquias e comunidades, organizações de pastoral social e obras sociais, também promovidas pelas Comunidades de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, pelas Associações de Fiéis, Movimentos e Novas Comunidades e por uma infinidade de iniciativas espontâneas, mesmo sem serem institucionalizadas, ou por ações pessoais.

Nem poderia ser diferente, pois a fé em Deus, que aprendemos de Jesus Cristo, refere-se ao Deus-Amor, que é misericordioso para com todas as suas criaturas, especialmente o ser humano. A fé cristã mostra-se verdadeira quando une o amor aos irmãos ao amor a Deus (cf. 1Jo 4,17-21). A fé floresce na caridade (cf. Tg 2,14-26). No entanto, como dizia São Vicente de Paulo, não basta fazer a caridade: é preciso fazê-la bem. Portanto, é necessário pensar nas maneiras de organizar, acompanhar e dinamizar tantas iniciativas de caridade social ligadas à Igreja, para torná-las mais eficazes.

Diversas foram as propostas sinodais sobre a implementação da caridade na Arquidiocese: fazer um mapeamento da caridade social, incentivar e preparar o voluntariado para as situações de emergência e elaborar planos para a sua ação; apoiar e ampliar a pastoral do “povo da rua” e demais pastorais que têm seu foco nas situações de pobreza e emergência social; envolver mais amplamente a Caritas Arquidiocesana na ação caritativa organizada; aprimorar o serviço de escuta; fazer um levantamento completo das iniciativas caritativas ligadas à Igreja na arquidiocese de São Paulo e organizar o cadastro dos serviços caritativos; compartilhar essas informações para tornar mais conhecidas essas ações caritativas e sociais; testemunhar a caridade no serviço à vida e à pessoa humana: refugiados, migrantes e descartados, idosos e enfermos; criar um observatório permanente de crise para avaliar e analisar as situações e propor encaminhamentos.

A promoção da caridade pessoal, comunitária e social é parte da missão evangelizadora da Igreja, conforme ensinou o Papa Francisco na exortação apostólica Evangelii gaudium (2013), sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. Há uma inevitável implicação social na pregação do Evangelho (cf. cap. IV). “Ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocuparmos com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciarmos sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos” (nº 183).

As numerosas instituições e iniciativas de caridade, voltadas para os mais pobres e excluídos na Arquidiocese e fora dela, encontram-se com frequência desarticuladas e dispersas. A sua articulação poderá proporcionar maior eficácia às iniciativas e ajudará a compreender melhor os desafios postos à caridade, a apoiar e dar visibilidade às iniciativas de caridade cristã já existentes e suscitar novas iniciativas. Uma boa articulação dos serviços da caridade social poderá ajudar a conhecer melhor a tipologia dos serviços e sua localização no território da cidade.

Algumas diretrizes para a caridade social, a partir da Doutrina Social da Igreja, poderão ser importantes para tornar a caridade mais envolvente e eficaz. Com o Vicariato, não se pretende unificar os trabalhos e iniciativas, nem interferir na sua autonomia e na espontaneidade das iniciativas, que brotam como respostas generosas da fé diante dos desafios sempre novos; mas pretende ser uma ajuda e um apoio a elas.

Para responder às demandas levantadas pelo sínodo arquidiocesano, resolvemos criar um Vicariato Episcopal da Caridade Social, que terá a missão de organizar, acompanhar e dinamizar as iniciativas de caridade social ligadas à Igreja Católica, no âmbito da arquidiocese de São Paulo. O Vicariato deverá ser mais uma expressão do testemunho da fé cristã e da vida nova do Reino de Deus, já presente entre nós (cf. Lc 17,21).

Com a criação de um Vicariato Episcopal da Caridade Social será possível fortalecer a identidade cristã das instituições e das ações sociais e caritativas promovidas pela Igreja Católica nos seus diversos setores, favorecendo, ao mesmo tempo, o testemunho público da fé, mediante as obras de misericórdia, de caridade e de justiça, sem as quais ninguém entrará na vida eterna (cf. Mt 25,31-46), a valorização da vida e da dignidade humana, tendo como referência fundamental o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja.

O Vicariato Episcopal da Caridade Social terá seu Regulamento próprio, no qual se explicitam as suas competências e sua organização. Será coordenado por um Vigário Episcopal, que terá o encargo de promover as competências do Vicariato, previstas no Regulamento.

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