Visitando os textos bíblicos, encontramos uma riqueza de comparações que nos ajudam a compreender a importância da Palavra de Deus. O salmista diz: “Tua palavra é lâmpada para os meus pés e luz para o meu caminho” (Sl 119). O profeta Ezequiel escreve: “Filho do homem, coma isso… Eu comi, e pareceu doce como o mel para o meu paladar” (Ez 3,1-3). E o livro de Provérbios ensina: “Olhe a formiga, observe os hábitos dela… no verão ela reúne sua comida durante a colheita” (Pr 6,6-8). E Maria, que guardava tudo no seu coração (cf. Lc 2,19). Luz para não tropeçar no caminho, alimento para não ficar desnutrido e poder completar a missão, armazenar e guardar para repartir. Assim é a Palavra.
Ainda mais, a Palavra é comparada à chuva e à neve: ambas caem do céu. O profeta Isaías nos diz que ela vem “irrigar e fecundar a terra, e fazê-la germinar e dar semente para o plantio e para a alimentação” (Is 55,10). Deixa transparecer que a estação é o inverno, tempo de noites longas e dias curtos, pouca chuva, frio, vegetação seca, árvores perdendo suas folhas, e doenças oportunistas (hoje, a COVID-19). A Palavra vem para transformar tudo isso, pois bem sabemos que, depois do rigoroso inverno, surge a bela e iluminada primavera. Estamos à espera dessa nova estação, porém, estando ainda no inverno, temos que espalhar a Palavra como chuva, para que do chão sombrio germinem sementes que produzam flores e frutos.
De modo poético, o salmista nos faz sonhar: “As colinas se enfeitam de alegria e os campos de rebanhos, nossos vales se revestem de trigais, tudo canta de alegria” (Sl 65). Isso também nos remete, faz lembrar dos nossos rios voadores que se formam na grande Amazônia, cruzam a região Norte, batem na Cordilheira dos Andes, desviam rumo ao sul e levam chuva para quase todo o Brasil. Assim é a Palavra.
Falando para os seus e para nós, Jesus conta uma bela parábola para mostrar a força da semente, a força da Palavra. Conta-a a partir do chão do seu povo. A semente é espalhada no caminho, entre pedras, nos espinhos e na terra boa. É o que sobrou para o camponês pobre. As melhores terras eram de propriedade dos grandes fazendeiros que produziam enormes quantidades de trigo para o mercado greco-romano. Para os pequenos, sobrou a terra pior, na beira das estradas, cheias de pedras, próxima às cercas dos fazendeiros, cercas, às vezes, feitas de espinhos.
As sementes lançadas na terra tiveram dificuldades em criar raízes. As primeiras caíram à beira do caminho, não criaram raízes e os pássaros as comeram. A Palavra nem foi acolhida, não criou raízes, voou longe com os pássaros. Outra parte caiu em terreno rochoso, aquele que tem fina camada de terra e pedras embaixo, que retêm a umidade do ar e o calor do sol. O primeiro aquecimento, em vez de fazê-las crescer, acabou por queimá-las. É o entusiasmo inicial, um fogo de palha que não tem consistência, grita “hosana” e logo um grito mais forte, “crucifica-o”. O coração de pedra não permite à Palavra produzir raízes. Parte das sementes caiu no meio dos espinhos. Foi permitida que a semente germinasse e crescesse, mas os espinhos as sufocaram antes de amadurecer. Isso lembra a parábola em que o espinheiro se prontificou a ser o rei das árvores da terra (cf. Jz 9,15). Parte das sementes caiu em terra boa e produziu acima do esperado.
O semeador é otimista, vai vencendo obstáculos e não se cansa de semear, pois sabe que a semente é a melhor que tem. Ele não desanima quando se depara com pessoas que têm o coração de pedra ou se comportam como espinheiros que abafam o que vem de Deus. O Papa Francisco diz que, quando um cristão não vive uma forte adesão a Jesus, “logo ele perde o entusiasmo e deixa de estar seguro do que transmite, falta-lhe força e paixão. E uma pessoa que não está convencida, entusiasmada, confiante, enamorada, não convence ninguém”.
O bom semeador procura se aperfeiçoar, crescer no aprendizado, na espiritualidade, na amizade com Deus, para ter melhores condições de tirar pedras e espinhos do chão da vida do nosso povo. Nossa missão de semeadores é lançar a melhor semente, retirar pedras e espinhos da vida do povo, ouvindo sempre os gemidos da criação.
Nos dias em que vivemos, não convém aglomerar pessoas, mas seja oportuno para espalhar sementes, em especial nos pequenos grupos junto com os de casa, e depois que tudo passar, com os de fora que se encontram nas pastorais, pequenas comunidades e grupos afins.
Que o Cristo, como semente de trigo que caiu na terra, mas germinou e produziu em abundância, nos alimente e nos encoraje nesta missão.