Beber água na origem

A XX Jornada Mundial da Juventude aconteceu em Colônia, de 16 a 21 de agosto de 2005. Naquela edição, aconteceu a primeira viagem apostólica do Papa Bento XVI. A Jornada foi organizada por São João Paulo II, que havia falecido quatro meses antes da realização do evento, sendo, então, conduzido por seu sucessor. Estiveram ali mais de 1 milhão de jovens de diferentes países.

O Papa João Paulo II, numa transmissão televisiva, realizada em abril de 2002, pediu aos jovens que não tivessem medo de ser contra a corrente dos valores materialistas: “Queridos jovens, não tenhais medo de proclamar o Evangelho da Cruz. Não tenhais medo de ir contra a corrente. A mensagem de Cristo não é fácil de ser compreendida em nossa época, em que o bem-estar material e o conforto são procurados como valores prioritários”. Ele foi escutado por 40 mil jovens reunidos na porta de Brandemburgo, em Berlim. Numa mensagem escrita no mesmo dia, o Papa disse aos jovens que não há Cristianismo sem um encontro concreto com Jesus: “O Cristianismo não é simplesmente uma doutrina, é um encontro na fé com Deus, presente em nossa história pela encarnação de Jesus”.

O poeta gaúcho Jayme Caetano Braun, na sua Payada, disse: “Raízes, tronco, ramagem. Ramagem, tronco, raiz… Abriu-se uma cicatriz de onde brotei na paisagem. O tempo me fez mensagem, que os ventos pampas dirigem, dos anseios que me afligem de transplantar horizontes, buscando o rumor das fontes pra beber água na origem”. É sobre beber água na origem que eu quero falar.

“Se você quer encontrar a nascente, deve subir contra a corrente”, escreveu João Paulo II numa outra oportunidade. Uma nascente, tecnicamente falando, é um afloramento do lençol freático, que dá origem a uma fonte ou um curso d’água. Também conhecida como mina d’água, olho d’água. Para encontrar água límpida, não há segredo: é subir contra a corrente! Devemos subir nadando, remando, carregados por outras pessoas, empurrados… até a água verdadeira, que é a água original. Beber água na origem, eis a questão!

 Em The Da Vinci Code (O Código Da Vinci – 2003), um autor dizia trazer fatos reais, quando apenas havia escrito um romance policial. O lançamento foi amparado por um marketing brilhante. Vendeu gato por lebre: não apresentou nenhum registro histórico. Jamais li tal livro! Recordo que, à época, pensei: se alguém deseja conhecer a verdade sobre Jesus, deverá recorrer aos Evangelhos, nos quais Ele se revela em toda sua verdade e pode-se ter a noção da grandeza de seus ensinamentos. No mais, tudo é ficção e farsa para vender.

Volto ao Papa: para encontrar água limpa… ir contra a corrente! Nosso crer, sobre Jesus, nunca dependeu de Dan Brown. Então, conheça Jesus por você mesmo. Suba contra a corrente. Vá até a nascente: a Sagrada Escritura. Alicerçado na Palavra, você será capaz de compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade do amor de Jesus. Escrevendo aos Efésios, São Paulo desejou que essa comunidade conhecesse profundamente a Deus, que se inteirasse do seu amor para, assim, Deus habitar em seus corações (cf. Ef 3,14-19).

Deus habita os corações puros. E ponto final! Subir contra a corrente é percorrer o caminho da misericórdia com a qual Deus nos encontrou e salvou. Por pura graça! Sei que, na busca por “água boa”, há coisas incompreensíveis e, nem por isso, todavia, inexistentes ou menos importantes. Há coisas incompreensíveis, porém, confiáveis: um filho que aceita avançar no caminho que não conhece, mas sabe que é bom porque é indicado por seu pai. Vi um desenho num livro: mostrava um pai andando por uma estrada bastante larga, e seu filhinho caminhava ao lado, um pouco afastado. Na legenda, o pai dizia: “Filho, cuidado com os buracos, cuidado por onde anda!” Ao que o menino respondeu: “Tome cuidado o senhor, pois eu sigo seus passos!”

A fé é ótima estrada para se caminhar. Vivamos o amor de Deus, buscando a Nascente e, um dia, nos reconheceremos no Céu

guest
2 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Cherlia Vieira
Cherlia Vieira
10 meses atrás

Que linda reflexão, Dom Jorge!
Deus te dê forças para cada vez mais “subir conta a corrente”.
Sua benção!