Cristo é a nossa paz

Neste mês de fevereiro, inicia-se o tempo litúrgico da Quaresma. Para nos ajudar no caminho de conversão e reconciliação em preparação para a Páscoa, a Igreja nos propõe a Campanha da Fraternidade, este ano ecumênica, com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, e tendo por lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade” (Ef 2,14a). 

Em tempo de sofrimento e dor, de pandemia, de angústia e aflição, para reavivar a esperança, acolhemos Jesus Cristo, o Salvador, como nossa única e verdadeira paz. Tendo presente a bela e profunda saudação hebraica “shalom” – paz –, queremos viver a paz e promovê-la entre nós, na sociedade, na Igreja. Por ser tão difícil e ameaçada, a paz na Bíblia, e na história da humanidade, sempre foi considerada um bem extremamente precioso. Sabemos que “shalom” se refere à perfeição, ao estar pleno e completo, é bênção e salvação de Deus. Uma existência de paz – shalom – é estar também com saúde, sentir-se bem, em estado de plenitude, dons e graças em abundância, a vida plena. 

Já ao nascer, Jesus é apresentado como portador da paz ao mundo por excelência, com os anjos anunciando: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e, na terra, paz aos que são do seu agrado” (Lc 2,14). Em Jesus, a paz, em seu significado pleno de salvação, de ausência de conflitos e de vitória sobre o mal e a injustiça, é oferecida aos seres humanos. No início de sua vida pública, o Mestre proclama: “Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9). No contexto das Bem-aventuranças, portanto, para participar do Reino de Deus, anunciado por Jesus Cristo, é necessário que o discípulo seja um construtor da paz, trabalhe para que a paz reine efetivamente em nós, entre nós, na comunidade, no mundo.

Nos escritos de São Paulo Apóstolo, a verdadeira paz era proveniente da graça de Deus que recebemos em Jesus Cristo. Como aspiramos a paz do coração: “Reine em vossos corações a paz de Cristo, para a qual também fostes chamados em um só corpo” (Cl 3,15). Do que era dividido, fez unidade, comunhão. A paz é fruto do Espírito (cf. Gl 5,22), pois o “Reino de Deus não é comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). Justificados e fortalecidos pela fé, temos paz com Deus por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como também recordava o apóstolo Tiago, “o fruto da justiça é semeado na paz para aqueles que promovem a paz” (Tg 3,18). Sim, quem constrói a paz está semeando os frutos da justiça, fazendo a vontade do Pai, anunciando e testemunhando o Evangelho, sendo discípulo missionário. 

A paz (shalom) só é possível na plena aceitação de Jesus Cristo como a verdadeira paz, no cumprimento da Palavra de Deus. Uma vida em conformidade com o projeto de Deus possibilita criar na sociedade um procedimento ético de respeito aos direitos do próximo, na fraternidade e no diálogo, e na amizade social, que ajudam a viver a justiça, na paz. É impossível construir uma sociedade justa e solidária sem o respeito à vontade de Deus expressa em seus mandamentos. O mesmo Jesus resume a Lei em dois preceitos fundamentais: amar a Deus e amar o próximo (cf. Mt 22,34-39). 

Somente Aquele que é a nossa paz pode nos dar a verdadeira paz: “Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz” (Jo 14,27). Com São Francisco, vamos rezar e suplicar: “Senhor, faze de mim um instrumento de vossa paz”. 

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