Peregrinos de esperança, reconciliados no amor e instrumentos de reconciliação

Estamos nos aproximando do Ano Jubilar de 2025, no qual somos convidados a vivenciar, como peregrinos de esperança, uma renovação de nossa fé, a partir de um encontro vivo e pessoal com o Senhor Jesus, e de nossa esperança colocada em Deus, que não decepciona (cf. Rm 5,5). 

Ao n. 23 da Bula Spes non confundit, o Papa fala sobre a concessão das indulgências como expressão da infinita misericórdia de Deus para conosco e insiste na importância do sacramento da Reconciliação com estas palavras: “A Reconciliação sacramental não é apenas uma estupenda oportunidade espiritual, mas representa um passo decisivo, essencial e indispensável no caminho de fé de cada um. Ali permitimos ao Senhor que destrua os nossos pecados, sare o nosso coração, nos levante e abrace, nos faça conhecer o seu rosto terno e compassivo. Na verdade, não há modo melhor de conhecer a Deus do que deixar-se reconciliar por Ele (cf. 2 Cor 5,20), saboreando o seu perdão. Por isso, não renunciemos à Confissão, mas descubramos a beleza do Sacramento da cura e da alegria, a beleza do perdão dos pecados”.

Em vista disso, proponho uma breve reflexão a partir de Lc 15,11-32 (a parábola do Pai misericordioso) e de Lc 19,2-10 (o episódio de Zaqueu), tendo em conta o que Jesus disse em Jo 6,37: “Todo aquele que o Pai me dá virá a mim, e o que vem a mim não o lançarei fora”. Nestas duas passagens do Evangelho, vemos transparecer o amor misericordioso de Deus. 

No primeiro caso, o Pai não questiona o pedido do filho para partir, mas respeita sua liberdade; não lhe faz as exigências que o irmão mais velho teria feito se estivesse em seu lugar, mas o ama incondicionalmente. Quando o pródigo volta, a questão é resolvida em um abraço cheio de ternura, amor e compaixão – amor gratuito. A parábola deixa claro que o pecado corrói a dignidade do ser humano, o reduz a uma situação de penúria e miséria. O filho pensando em como o Pai tratava os empregados, lembra-se de quão bom e justo ele era, e decide voltar à casa do Pai. Quando nos damos conta do amor que em Cristo o Pai nos tem, começamos um caminho de volta. Mesmo o filho tendo desprezado o Pai, este não o esqueceu um só instante. No seu amor, aquele Pai zelava pela vida do filho e, no seu abraço de acolhida, a renovou. Esse Pai é Deus que nos ama e, no seu amor, perdoa, transforma, ressuscita-nos para uma nova vida. A festa que o Pai prepara é o sinal da alegria salvífica: “Há mais festa no céu por um só pecador que se arrepende que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15,7).

Zaqueu, por sua vez, pecador público, recebe o presente da visita de Jesus, que o amou desde que lhe viu e foi até ele para oferecer-lhe salvação, que ele acolheu prontamente. Certamente Zaqueu nunca tinha ouvido seu nome ser pronunciado da maneira como Jesus o pronunciou. É Jesus quem toma a iniciativa, pois Deus sempre nos ama por primeiro (cf. 1Jo 4,10.19). No olhar e na voz de Jesus, Zaqueu certamente sentiu um amor e acolhida que jamais experimentara. E uma vez convertido, Zaqueu decide manifestar também a outros um pouco do muito que recebera: reparando injustiças, partilhando com os necessitados e manifestando a alegria da salvação. 

Podemos nos confrontar com a experiência do filho pródigo e de Zaqueu. O encontro com Cristo movia os corações a compartilhar com os demais a experiência que fizeram, assim foi também com Zaqueu em relação aos amigos; com os discípulos que anunciavam Jesus aos demais; com a Samaritana, que O anunciou aos conterrâneos. Fazer a experiência do amor e da misericórdia de Deus (cf. 1Tm 1,12-17) deve levar-nos partilhar isso com todos (cf. Cl 3,1-4.12-15). Por fim, digo que nenhum de nós está acabado (cf. 1Cor 4,4-5): estamos em processo de crescimento e conversão. Nesse processo, a Confissão nos põe na justa estrada para que, reconciliados e renovados na esperança, sejamos também instrumentos de reconciliação para com todos.

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