Em certa ocasião, uma jornalista perguntou a Santa Teresa de Calcutá: “Madre Teresa, na sua opinião, o que precisa mudar na Igreja?”. E, sem titubear, a Madre respondeu: “Você e eu!”. Penso que essa resposta é de grande atualidade agora em que vivemos um caminho sinodal. Antes de tudo, pensemos naquilo em que cada um de nós precisa mudar, para melhorar também a Igreja, porque sabemos que todos somos responsáveis por fazer parte viva do Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja.
Celebramos, no domingo passado, a Festa de Todos os Santos. Isso lembra o nosso destino: todos somos chamados à santidade. Isso é o que a Igreja espera de cada um dos seus membros, dos ministros ordenados, dos consagrados e dos fiéis leigos: que lutem verdadeiramente para serem santos e para que santifiquem o mundo, no desempenho do seu trabalho e dos seus deveres pessoais e sociais. São João Crisóstomo, nos alvores da Igreja, já dizia: “Eu não vos digo: não vos caseis. Eu não vos digo: abandonai a cidade e afastai-vos dos negócios citadinos. Não. Permanecei onde estais, mas praticai a virtude. Para dizer a verdade, quereria antes que brilhassem por sua virtude os que vivem no meio das cidades, que os que foram morar nos montes…” Para ele, como para as primeiras gerações dos cristãos, estava claro o chamado do Evangelho para procurar a santidade sem abandonar o próprio ambiente. Contudo, durante muitos séculos, a maioria dos cristãos não entendeu dessa forma: só almejavam a santidade aqueles que se ordenavam sacerdotes ou ingressavam num convento, numa ordem ou congregação religiosa como frades ou freiras. No entanto, o Concílio Vaticano II propôs para todos os fiéis aquilo que se viveu nos primeiros séculos do Cristianismo: todos são chamados a um caminho de santidade, cada um em seu estado e condição de vida. A partir da publicação da constituição dogmática Lumen gentium, deu-se um grande progresso na doutrina eclesiológica naquilo que se refere à posição do fiel leigo na estrutura e na missão da Igreja.
Essa mensagem já vinha sendo ensinada por São Josemaría Escrivá desde 1928: um retorno às origens. Um convite aos homens e às mulheres de hoje almejarem a santidade em seu trabalho e em seu estado laical, no meio do mundo: “Eles [os primeiros cristãos] viviam a fundo sua vocação cristã; procuravam seriamente a perfeição a que estavam chamados pelo fato, simples e sublime, do Batismo. Não se distinguiam exteriormente dos outros cidadãos” (São Josemaría: Entrevistas, 24). A santidade laical como um verdadeiro caminho vocacional, um compromisso para a vida inteira. Uma santidade verdadeiramente assumida com o compromisso de praticar todas as virtudes cristãs, de realizar o próprio trabalho e deveres pessoais com a maior perfeição possível, de constituir uma família cristã exemplar, educando os filhos no caminho da fé, exercitando um apostolado com todos: pessoas do próprio círculo de amizade e outras. É o que também nos ensina o Papa Francisco, na exortação apostólica Gaudete et exultate, 14: “Para ser santo, não é necessário ser bispo, sacerdote, religiosa ou religioso. Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra. És uma consagrada ou um consagrado? Sê santo, vivendo com alegria a tua doação. Estás casado? Sê santo, amando e cuidando do teu marido ou da tua esposa, como Cristo fez com a Igreja. És um trabalhador? Sê santo, cumprindo com honestidade e competência o teu trabalho a serviço dos irmãos. És mãe, pai, avó ou avô? Sê santo, ensinando com paciência as crianças a seguirem Jesus. Estás investido em autoridade? Sê santo, lutando pelo bem comum e renunciando aos teus interesses pessoais”.
Pedimos a todos os Santos do Céu que todos e cada um de nós vivamos com seriedade o nosso compromisso de santidade, assumido em nosso Batismo.