Uma espiritualidade sinodal

No final do último mês de outubro, dia 26, no encerramento da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, foi publicado o Documento Final, que tem por título: “Para uma Igreja Sinodal: comunhão, participação, missão”. Na ocasião, o Papa Francisco disse que este Documento representa o fruto alguns anos que foram dedicados à escuta do Povo de Deus e reflete o propósito de uma Igreja mais sinodal. O Papa decidiu que o Documento seja logo publicado e não será objeto de uma exortação apostólica específica, mas que desde já possa inspirar a vida da Igreja. Neste sentido, o processo sinodal não se encerra com o término da Assembleia, mas inclui a fase de implementação. Todos, portanto, são chamados a se envolver no caminho cotidiano com uma metodologia sinodal de consulta e discernimento, identificando modos concretos e percursos formativos para realizar uma frutuosa conversão sinodal nas várias realidades eclesiais. 

Somos a Igreja de Jesus Cristo em caminho e que deseja juntos sempre caminhar, em comunhão e na participação. Nesse percurso, o Documento Final, nos seus números 43 a 48, recorda que é significativa e importante a experiência da “espiritualidade sinodal”. De fato, se faltar a profundidade espiritual pessoal e comunitária, a sinodalidade se reduz a um expediente organizacional. Por isso, é fundamental praticar com humildade e simplicidade o estilo sinodal para tornar a Igreja uma voz profética no mundo de hoje, que assuma sua vocação e missão a serviço do Reino e Deus. 

Partindo do princípio de que a sinodalidade é antes de tudo uma disposição espiritual que permeia a vida cotidiana de todos os batizados e atinge todos os aspectos da missão, assim é definida a “espiritualidade sinodal”: “Uma espiritualidade sinodal brota da ação do Espírito Santo e requer a escuta da Palavra de Deus, a contemplação, o silêncio e a conversão do coração. Como o Papa Francisco afirmou no Discurso de Abertura desta Segunda Sessão, ‘o Espírito Santo é um guia seguro, e nossa primeira tarefa é aprender a discernir Sua voz, porque Ele fala em tudo e em todas as coisas’. Uma espiritualidade sinodal também exige ascetismo, humildade, paciência e prontidão para perdoar e ser perdoado. Ela acolhe com gratidão e humildade a variedade de dons e tarefas distribuídos pelo Espírito Santo para o serviço do único Senhor (cf. 1 Cor 12,4-5). Faz isso sem ambição ou inveja, nem desejo de dominação ou controle, cultivando os mesmos sentimentos de Cristo Jesus, que ‘esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo’ (Fl 2,7). Reconhecemos o fruto quando a vida cotidiana da Igreja é marcada pela unidade e harmonia na pluriformidade. Ninguém pode prosseguir sozinho em um caminho de espiritualidade autêntica. Precisamos de acompanhamento e apoio, incluindo formação e direção espiritual, como indivíduos e como comunidade” (cf. n. 43 do Documento Final).

Reconhecendo a primazia da graça, somos todos chamados a viver e a fazer uma autêntica experiência de uma espiritualidade sinodal, pessoal e comunitária, na prática do amor mútuo como lugar e forma de encontro com Deus. Que a nossa oração seja aberta à participação, que o discernimento seja vivido em conjunto, que a força missionária seja expressa como serviço generoso a todos os irmãos.   

guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários