O termo espiritualidade se refere, antes de tudo, à experiência pessoal do mistério de Deus, o modo como se vive esse mistério, consciente e interiorizado, de maneira que a fé cultivada possa crescer e amadurecer, dar seus frutos.
Do ponto de vista humano, a espiritualidade, como experiência profunda de Deus, se concretiza na vivência interior, se abre à transcendência, ao absoluto, e se projeta ao outro, aos irmãos. Podemos dizer que é preciso entrar em si mesmo, na própria alma, para abrir o coração a Deus, e responder a seu amor na fé, no encontro com o outro.
No sentido cristão, a espiritualidade significa “a vida sob a ação do Espírito” (cf. 1Cor 2,14-15). São Paulo utiliza com frequência a expressão “ser em Cristo” (cf. 1Cor 1,2.30; Rm 8,1; Gl 3,28), o que se torna possível por graça do Espírito: “Enviou Deus aos nossos corações o Espírito do seu Filho” (Gl 4,6). O corpo é uma morada de Deus porque nele habita o Espírito Santo. “Não sabíeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?” (1Cor 6,19). O cristão se torna espiritual porque leva uma vida segundo o Espírito, dom primordial do Ressuscitado (cf. Jo 20,22-23). De fato, a presença do Espírito caracteriza a espiritualidade alicerçada na própria identidade cristã, para viver segundo o Espírito.
A grande novidade da vida cristã se encontra na participação na morte e ressurreição de Jesus pelo Batismo. Tal participação realiza o chamado intrínseco de viver como filho de Deus. São Paulo define a nova realidade criada pelo Batismo com o termo adoção (cf. Gl 4,5; Rm 8,15.23; 9,4; Ef 1,5). Por obra do Espírito, os cristãos são realmente constituídos filhos de Deus (cf. Rm 8,14-17). Trata-se de uma filiação real, porque nos tornamos em Cristo verdadeiros filhos de Deus. São João fala de filiação divina, mediante um novo nascimento. “Vede que manifestação de amor nos deu o Pai, sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos!” (1Jo 3,1). Para João, os cristãos são os nascidos de Deus (cf. Jo 1,12-13; 3,1-11; 1Jo 2,29 – 3,10; 4,7; 5,1; 5,18).
A comunhão com a Trindade caracteriza a fé cristã, bem como sua espiritualidade, de modo existencial. Ser cristão é cultivar a presença do Deus uno e trino no mais íntimo de si mesmo por meio do mergulho no mistério pascal, que jorra para a vida eterna. Pela ação do Espírito Santo, o cristão traz em si os traços de Cristo, é configurado a Ele, o rosto do Pai. Somos todos chamados a viver segundo o Espírito.