
Ex-alunos, muitos dos quais sacerdotes, colegas de docência e leigos aos quais ministrou cursos bíblicos prestaram, na última semana, homenagens à biblista Ana Flora Anderson, que faleceu em 24 de junho, em São Paulo, aos 90 anos.
“Ana Flora deu valiosa contribuição à difusão e ao aprofundamento da Palavra de Deus no Brasil, marcada por sensibilidade pastoral e excelência acadêmica”, escreveu o Cardeal Scherer, Arcebispo Metropolitano, na nota de pesar, na qual rezou a Deus para “que conceda o prêmio da vida eterna a essa servidora da Palavra”.
Nascida nos Estados Unidos, em 1935, Florence Mary Anderson chegou ao Brasil em 1959, depois estudou na Escola Bíblica e Arqueológica Francesa de Jerusalém e retornou a São Paulo na década de 1970, quando passou a lecionar Teologia e ministrar cursos de formação bíblica nas comunidades, na companhia do Frei Gilberto Gorgulho, OP.
Ela e o frade dominicano também foram responsáveis, entre 1981 e dezembro de 2012, pela coluna de liturgia do jornal O SÃO PAULO. Ana Flora continuou a escrevê-la sozinha até junho de 2016.
“Jesus convoca e organiza a Comunidade dos Pequeninos. Esta comunidade é o resultado do anúncio das bem-aventuranças aos pobres. Eles responderam e seguiram a Jesus (Mt 11,25)… A Comunidade dos Pequeninos é na comunhão, na justiça e no amor. Ela é comunidade que se estrutura e se organiza para a vida do Reino”, escreveram Ana Flora e Frei Gorgulho no primeiro artigo, publicado na edição 1.326, em 21 de agosto de 1981.
A seguir, apresentamos uma coletânea de alguns dos textos de Ana Flora Anderson no semanário arquidiocesano.
O CAMINHO DA HUMILDADE
“Deus revela que conhece o sofrimento de seu povo e que ouviu o seu clamor. Ele quer libertá-lo da escravidão do Egito e levá-lo a uma terra fértil e espaçosa. Moisés é enviado para anunciar a Palavra de Deus ao povo. Mas, primeiro, ele pergunta qual é o nome de Deus. A resposta tem iluminado todos os séculos seguintes: Eu sou Aquele que sou! […] O Evangelho de São Lucas (13,1-9) resume o ensinamento de Jesus em uma parábola. A figueira representa o povo de Deus que, mesmo recebendo todas as graças divinas, muitas vezes não dá frutos. O vinhateiro pede mais um ano para adubar (evangelizar), oferecendo a possibilidade de que a árvore dê muitos frutos no futuro. A parábola desenvolve o tema da oração do dia. Devemos reconhecer a nossa fraqueza e nos aprofundar na Palavra e no Amor de Deus.”
(3º Domingo da Quaresma – edição 2.940 – 19/02/2013)
DEUS FEZ MARAVILHAS
Nascida e criada em uma aldeia no interior da Galileia, Maria é chamada por Deus quando ainda jovem. Este é o paradoxo que fascina São Lucas: quando a pobreza interior se abre plenamente a Deus, Ele fará maravilhas!… O Evangelho de São Lucas (1,39-56), por meio do hino do Magnificat, revela que o amor e a graça de Deus realizam o ser humano quando este se aproxima sem negar suas fraquezas. Maria canta este hino que exprime o que é mais profundo no seu coração: Deus viu a minha pobreza e em mim fez maravilhas! A pobre Virgem da Galileia hoje é apresentada como o grande sinal no céu. Sua fidelidade e a coragem a transformaram na mulher que tem o poder de enfrentar os males deste mundo. É através dela, no seu Filho, que Deus realizou a salvação.
(Assunção de Nossa Senhora – edição 2.964 – 06/08/2013)
UNIDOS NOS LAÇOS DE AMOR
Neste domingo depois do Natal, a Igreja nos oferece uma meditação sobre o verdadeiro sentido de ser família. Na primeira leitura (Eclesiástico 3,3- 7.14-17), os sábios refletem sobre a importância de honrar o pai e a mãe. Deus abençoa os filhos que honram seus pais. Ele ouve suas orações e perdoa seus pecados. Os sábios ensinam a necessidade de cuidar de pais idosos mesmo quando eles perdem a lucidez. Não podemos deixá-los sentirem-se humilhados… O Evangelho de São Mateus (2,13-15.19- 23) apresenta São José como o protetor de Jesus e de Sua mãe, Maria. Para garantir a segurança deles, José leva sua família ao Egito e assim a profecia se realiza: “Do Egito chamarei meu Filho.” A Sagrada Família voltará à Terra Santa na aldeia de Nazaré na Galileia. É aí que o Menino Jesus crescerá cercado pelo amor de Maria e de José.
(Sagrada Família de Jesus, Maria e José – edição 2.983 – 17/12/2013)
CHAMADOS À ESPERANÇA
Na Festa da Ascensão, a primeira oração é uma síntese dos dons de Deus nesta celebração. Diante da glorificação de Jesus, devemos conhecer uma alegria profunda e agradecer a Deus que nos chamou à esperança, pois fazemos parte do Corpo de seu Filho. A segunda leitura (Efésios 1,17-23) é uma meditação sobre a glória dada a Jesus, Filho de Deus. Pedimos o dom da sabedoria para conhecer profundamente o mistério de Jesus. Precisamos de uma luz especial do Pai para alavancar a esperança de participar da sua glória. O Pai revelou o seu poder na Ressurreição e na glorificação de Jesus, Cabeça da Igreja… O Evangelho de São Mateus (28,16-20) revela que antes da sua glorificação, o Senhor Jesus entregou aos discípulos uma autoridade espiritual. Eles devem sair em missão pregando a Palavra para todos os povos.
(Ascensão do Senhor – edição 3.004 – 27/05/2014)
O INEFÁVEL MISTÉRIO
A primeira oração da festa da Santíssima Trindade nos leva a refletir sobre o mistério de Deus que é Pai, que é Palavra da Verdade e é Espírito santificador. Suplicamos a Deus a graça de conhecer a glória da Trindade e adorar a sua Unidade… Na segunda leitura (2 Coríntios 13,11-13), São Paulo descreve a comunidade cristã que crê na Trindade. Eles procuravam viver na paz, aperfeiçoando-se com uma amizade santa e profunda. Essa comunidade é cercada pelo amor do Pai, a graça de Jesus e vive em comunhão com o Espírito Santo. O Evangelho de São João (3,16-18) revela que o laço de união da Trindade se exprime no amor que o Pai, o Filho e o Espírito Santo têm para a humanidade… A Santíssima Trindade é um mistério da fé que abre para nós a compreensão da riqueza da vida divina.
(Santíssima Trindade – edição 3.006 – 10/07/2014)
A LUZ DA VIDA NOVA
Hoje, celebramos a grande festa da esperança. Pelo amor do Pai, Jesus venceu a morte e oferece a todos o dom da plenitude da vida. O salmo 138 canta “Aleluia! A mão de Deus e sua Sabedoria estão sempre conosco”. A oração pede que, nesta festa da Ressurreição, Deus nos dê a luz da vida nova… O Evangelho de São João (20, 1-9) narra a experiência de três seguidores de Jesus diante do mistério da ressurreição: Maria Madalena, o Discípulo Amado e Pedro. Eles, como nós, são chamados a penetrar no mistério da transformação do Jesus da história no Cristo da fé. Crer na Ressurreição de Jesus significa crer no amor e no poder de Deus para fazer a vida nascer de novo do sofrimento e da morte. Devemos ressuscitar com Cristo quando passamos as várias etapas da vida humana. As passagens são difíceis, mas, ao passar para a nova etapa com esperança, partilhamos da alegria da ressurreição.
(Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – edição 3.045 – 01/04/2015)
O Espírito fonte do amor
A oração da liturgia de hoje ilumina a ação de Deus no mundo atual. Ela revela que todas as graças que Deus derramou durante o ministério de Jesus são oferecidas a nós hoje através do Espírito Santo… Na segunda leitura (1 Coríntios 12,3b-7.12-13), São Paulo ensina de maneira incisiva que a fé em Jesus nasce de um dom do Espírito Santo. A comunidade de Corinto conhecia muitas divisões, mas São Paulo insiste que no meio da diversidade de dons, de ministérios e de atividades, tudo é realizado no mesmo Espírito. O Evangelho de São João (20,19-23) narra a vinda do Espírito Santo sobre os primeiros discípulos. Inicialmente, Jesus deseja-lhes por duas vezes a paz e depois anuncia a nova missão. Ele sopra sobre eles e lhes entrega o Espírito de Deus. Agora, os discípulos devem ir ao mundo pregar a conversão do mal e oferecer a reconciliação.
(Solenidade de Pentecostes – edição 3052 – 20/05/2015)
O FILHO MUITO AMADO
Ao celebrar a festa do Batismo de Jesus, a Igreja faz uma meditação sobre a Trindade. O Pai revela que Jesus é seu Filho amado, o Espírito o unge com o poder divino e Jesus se revela como o Centro da Aliança… Na segunda leitura (Atos dos Apóstolos 10,34-38), São Pedro anuncia que a salvação é universal, pois Deus não faz distinção de pessoas. Jesus anunciou o evangelho da paz depois de ser batizado e ser ungido com o Espírito Santo… A cena do Batismo é antes de tudo a revelação do Filho de Deus. Ela termina a preparação do povo e inaugura a presença ativa do Espírito e do Reino de Deus. Jesus se manifesta como o Filho encarnado, e sua missão será o princípio da vida nova em união com o Pai.
(Batismo do Senhor – edição 3.083 – 06/01/2016)
NOSSA FORTALEZA E SALVAÇÃO
A antífona de entrada deste domingo proclama que Deus é a força de seu povo, nossa fortaleza e salvação… A primeira leitura (Zacarias 12,10- 11;13,1) nos apresenta um exemplo desse amor. O povo de Israel, como todos os povos, nem sempre tratava os vizinhos ou inimigos segundo o ensinamento de Deus. Mas o Senhor Deus promete que Ele concederá um espírito de graça e de oração que levaria o povo a chorar o mal que fez aos outros. O amor de Deus perdoa os pecados e purifica o pecador. Na segunda leitura (Gálatas 3,26-29), São Paulo ensina que pela fé e pelo Batismo, fomos revestidos do próprio Cristo. Assim, tudo que poderia ter nos dividido no passado não existe mais. O amor de Deus uniu a humanidade, superando as diferenças de raça, classe ou sexo. Existe um só povo em Jesus Cristo.
(12º Domingo do Tempo Comum – edição 3.106 – 15/06/2016 – último artigo ao O SÃO PAULO)