Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho, como de vento forte, e encheu a casa toda onde eles estavam.” Tudo começou numa casa, ambiente pequeno, fechado, pouca gente, porém, lugar da manifestação do Espírito como uma forte rajada de vento. A natureza mostra-nos que o vento modifica a realidade. Quando está muito quente e seco, antes da chuva sempre vem um vento forte. Ele desaparece, mas fica a terra umedecida pela chuva que faz germinar sementes, e estas vão embelezar a criação e alimentar os famintos. Isso é o vento. O Espírito, em nível bem diferente, causa mudanças grandiosas, pois é a força divina que muda o mundo.
“E apareceram línguas como de fogo se repartindo, e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas.” O Espírito espalhou diversos dons às várias pessoas e colocou todos em comunicação: a unidade na diversidade. Esta é a verdadeira face da comunidade que nasce em Pentecostes, a qual deixa florescer carismas novos, mantendo sempre a unidade entre os que dela fazem parte. No entanto, pode acontecer de as pessoas, grupos ou partidos se fecharem em suas particularidades, achando-se os donos da verdade e procurando fazer de tudo para eliminar quem pensa ou age de modo diferente. Hoje, isso é muito visível naqueles que se definem como cristãos de direita ou de esquerda, inflexíveis no modo de pensar, tratando o outro como inimigo a ser eliminado, com a gravidade de usar citações bíblicas, com o propósito de justificar o que fazem e pensam.
O apóstolo Paulo recorre à imagem do corpo humano para mostrar que todos os dons são importantes para que tudo funcione bem e harmonicamente. Na falta de um órgão, o outro tem que trabalhar dobrado. Quando um adoece, o corpo todo padece. Na comunidade cristã, isso significa a doença da intolerância, de se achar dono do lugar, de viver ofendendo e insultando o outro, impedindo a entrada do Espírito. O Papa Francisco escreve: “Há sempre a tentação de construir ‘ninhos’: reunir-se à volta do próprio grupo, das próprias preferências, o semelhante com o semelhante, alérgico a toda contaminação. E, do ninho à seita, o passo é curto, mesmo dentro da Igreja. Quantas vezes se define a própria identidade contra alguém ou contra alguma coisa! Pelo contrário, o Espírito junta os distantes, une os afastados, reconduz os dispersos. Funde tonalidades diferentes numa única harmonia, porque, em primeiro lugar, vê o bem, vê o homem antes dos erros, as pessoas antes das suas ações”. Então, é preciso abrir as portas das comunidades para que o sopro do Espírito areje o lugar, remova a poeira, purifique o ambiente e lance luz para clarear o que está escuro.
“Estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou.” Novamente, a imagem de uma casa, agora com as portas fechadas. Nela, Jesus entra, encoraja os discípulos e transmite o Espírito para reconstruir as relações rompidas, afastar o medo e abrir horizontes para a missão. O Espírito recebido não mudou o chão no qual pisavam os discípulos, mas mudou seu coração; não os libertou dos problemas, mas lhes deu coragem para enfrentá-los; não encurtou o caminho, mas os fez caminhar confiantes para nunca serem vencidos pelo cansaço. Como nos ensina São Paulo: “É preciso viver segundo o Espírito”, de tal modo que, mesmo quando formos tomados pela noite escura, não nos falte fôlego para caminhar com a cabeça erguida.
Como o vento que carrega folhas e sementes para longe, o Espírito nos impele para fora, indicando que a missão vai para além das muralhas em que fazemos nossas celebrações. Em tempos de fácil contágio por um vírus oportunista, celebrar Pentecostes é ser portador de um novo contágio, capaz de acordar as forças adormecidas. Um contágio que vem com palavras positivas e motivadoras para quem se encontra angustiado, um contágio pelas mãos estendidas, que convidam à solidariedade e ao cuidado de vidas que foram machucadas, um contágio que alimenta e cria vínculos em tempos de isolamento. O amor é contagioso. Os textos bíblicos mostram-nos Pentecostes acontecendo a partir das casas. Há um bom tempo, fomos orientados a ficar em casa e a fechar nossos templos, a casa maior na qual a comunidade estava acostumada a se reunir para celebrar sua fé. Isso tudo é muito difícil para nós, mas cremos que o Espírito, como um vento forte, vai varrer as cinzas há tanto tempo acumuladas e expor as brasas, que teimaram em não se apagar para renovar a vida e sacudir a Igreja.