Zeferino, o Mártir Cigano

O modo cigano de viver a fé teve início com Abraão e os nômades que o acompanhavam. Depois, prosseguiu com Moisés e os andarilhos do deserto. É uma fé que se foi “enraizando nas andanças” e chegou até os tempos atuais. A Igreja se preocupa com as pessoas que seguem este modo de viver. Ligada ao Setor Mobilidade Humana da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), temos a Pastoral dos Nômades do Brasil (PN), um serviço católico que zela pela promoção humana e cristã das pessoas e dos grupos que integram o povo nômade, especialmente nas seguintes características: ciganos, circenses e parquistas.

Foi a partir de uma aclamação de São Paulo VI, na Romaria Cigana de 1975 que, no mundo, surgiu um trabalho pastoral com os nômades. Quero dizer as coisas do meu jeito: no Brasil, a PN começou quando, em algum lugar deste imenso território, um sacerdote ou algum católico de boa vontade soube atender e acolher a um irmão nômade que passava. Oficial e organicamente, a Pastoral dos Nômades teve início em 1985, com a chegada do Padre Renato Rosso, sacerdote italiano, convidado por Dom Benedito Zorzi, Bispo de Caxias do Sul (RS). Padre Renato possuía uma vasta experiência mística junto aos nômades na Itália. Então, em 1987, aconteceu a primeira Assembleia Nacional da PN e, Dom Paulo Moretto, sucessor de Dom Benedito, foi eleito o primeiro presidente.

No intuito de promover a dignidade de cada pessoa pertencente à etnia cigana, a PN procura conhecer profundamente sua cultura; compreender a “mentalidade” e o jeito cigano de ser; incentivar a manutenção da língua própria como patrimônio cultural; denunciar violações dos direitos humanos contra ciganos, circenses e parquistas; cooperar para que os nômades tenham acesso aos direitos sociais fundamentais. Em nossa longa caminhada como Pastoral estruturada, procuramos facilitar o diálogo entre ciganos e não ciganos. Atendemos às necessidades humanas, sociais e espirituais inerentes ao nomadismo; dedicamos tempo e oferecemos espaços para escutar e orientar aos nômades e às suas famílias.

Nas muitas vezes em que acampei com os ciganos ou residi no circo, sempre bati nesta mesma tecla: promover e desenvolver programas de alfabetização; lutar com eles pelo direito de ir, vir e permanecer; tornar conhecido o fenômeno da itinerância e sensibilizar sobre a necessidade de criar momentos de atenção e acolhida; unir os vários grupos ciganos nos mesmos ideais de justiça e igualdade social. Atualmente, sou Vice-Presidente da Pastoral dos Nômades.

Quero, agora, falar sobre nosso Patrono! O cigano Zeferino Giménez nasceu na Espanha, em 1861. Nunca foi à escola. Ajudava no sustento de casa confeccionando e vendendo cestos de vime. Tempos atrás, visitei, no centro de Barbastro, cidade para a qual mudou-se aos 20 anos, a feira onde vendia seus cestos e negociava cavalos e mulas. Em Barbastro, Zeferino casou-se, à moda cigana, com Teresa Castro. Ele não tinha profissão fixa. Tornou-se comerciante autônomo e enriqueceu, sem nunca faltar com as obras de caridade. Por amar o nomadismo, carregando seu Terço, começou a pregar a fé católica pelas estradas. Socorria aos mais pobres. Ligado à Ordem Franciscana Secular, devoto da Virgem Maria e verdadeiro adorador da Eucaristia, frequentava a Santa Missa e comungava todos os dias. Mesmo analfabeto, dedicava-se à Catequese de crianças ciganas e não ciganas. Era muito querido por elas: conhecia muitas passagens bíblicas e as contava com especial inspiração. Durante a Guerra Civil espanhola, Zeferino foi defender o pároco de Barbastro que era conduzido à prisão. Foi preso junto. E, ali, o fuzilaram enquanto rezava o Terço.

No dia 4 de maio de 1997, na Praça São Pedro, no Vaticano, numa belíssima cerimônia, com a presença de milhares de ciganos do mundo inteiro, São João Paulo II declarou Bem-Aventurado o cigano Zeferino, Mártir do Rosário, o primeiro cigano elevado à honra dos altares. E eu estava lá! Bem-Aventurado Zeferino do Cavalo Branco, rogai por nós!

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