Esta é a frase de Carlo Acutis em um vídeo que se pode encontrar facilmente na internet. Era a voz de um menino de 15 anos que desde cedo desenvolveu uma profunda relação com Jesus na Eucaristia, que se empenhou em participar cotidianamente da santa missa e se prestou a promover exposições sobre os milagres eucarísticos. Tinha leucemia e sabia que não sobreviveria. Fatalidade dramática e de inimaginável sofrimento para ele e para seus familiares e amigos.
Era muito jovem, transpirava alegria e vivacidade. Era um artista e um líder. Motivava seus amigos a fazerem o bem. Usava tranquilamente dos novos meios digitais para se comunicar, porém para comunicar aquilo que acreditava.
No vídeo, ele diz com voz de adolescente (meio fina, meio grossa): “Estou destinado a morrer”. Em seguida, abre os braços e faz um aplauso de uma palma só, como se estivesse comemorando alguma coisa, depois contém a simpatia e olha solene e gravemente para o lado. Está sentado diante de uma escrivaninha. Não parece doente, muito menos à beira da morte, mas ele sabe mais do que todos o que está para acontecer. O aplauso de frente, cheio de abertura de olhar, contrasta com o desvio do olhar que se segue. Ele olha para o lado porque não está brincando. Sente medo, sabe do desafio inédito e intransponível que deve enfrentar. Não é fanático, não é alienado, não está iludido. Entretanto, sua atitude é impassível. Está enfrentando tudo de peito aberto. Faz-nos lembrar do belíssimo pensamento de Bento XVI: “Eu não me preparo para uma despedida, mas para um encontro”.
Carlo Acutis é sóbrio, destemido, não parece um jovem, com suas inseguranças e ansiedades. Parece um adulto, de maioridade espiritual. A doença consumirá sua vida, mas sua fé eternizará sua existência. A morte é um destino tão inevitável e inédito que faz tremer até os mais corajosos e seguros, mas não faz tremer o jovem que ancorou sua vida no mistério de Cristo na Eucaristia. Ele parece saber mais do que todo o mundo que, na Eucaristia, o que se celebra (não apenas se recorda) é o mistério da morte e da vida, que ganham consistência pela entrega, capaz de transformar a morte em vida.
De fato, a morte é tão inefável para o ser humano que a única coisa que se pode colher dela é o significado. Quem morre pode ser considerado um perdedor ou um vencedor. A morte pode pôr fim a uma história, mas também pode iniciar a difusão de uma memória, que se desenvolve e cresce. No Ano Santo do jubileu dos 2025 anos da Encarnação do Verbo (do nascimento de Jesus), recordamos que a morte na cruz deveria ter servido para que nunca, no futuro, quem quer que fosse, em qualquer aldeia de Israel, voltasse a ouvir falar do nome daquele Galileu pregador crucificado. Entretanto, faz 2025 anos que seu nome é adorado e glorificado em cada canto do mundo, ainda que não o seja por todos. Com a morte, as coisas podem terminar ou começar.
A Eucaristia é um grande convite à busca de significado para a vida e a morte. Milagres eucarísticos, de certa maneira, contrastam com o Milagre Eucarístico da Transubstanciação, porque se trata de um milagre invisível, que se contempla sem se ver, que esconde o que quer revelar, que se queima sem se consumir, que é o que é, mesmo que não seja visto ou conhecido, assim como Deus. Entretanto, os milagres eucarísticos, que Carlo Acutis queria fazer conhecidos, servem de convite para a fé e para a experiência eucarística.
Carlo Acutis difundiu o culto à Eucaristia, mas também a viveu durante seus poucos anos aqui na Terra. Ele a experimentou em sua própria vida no momento de sua despedida desse mundo. E, assim, a Eucaristia passou a ser não apenas o destino de suas crenças, mas tornou-se ainda mais o testemunho de uma existência, de uma vida e de uma morte. E, sobretudo, de uma nova vida que ele buscou e encontrou e que hoje está presente também na vida de todos nós que tomamos contato com seu exemplo, especialmente os jovens, talvez mais especialmente, os jovens de todas as idades. Glória a Deus por ter agido na juventude dessa pessoa que a Igreja hoje honra e deseja ver imitada por todos os que creem na força viva da Eucaristia.