Família: lugar de crescimento no amor

Pessoas têm sede de felicidade. Sim, somos feitos para a felicidade, almejamos por isso e certamente queremos direcionar nossa vida nesta direção: sermos felizes.

O que precisamos nos deter a discernir com muito cuidado é: o que consideramos felicidade hoje? Temos clareza do que significa ser verdadeiramente feliz ou estamos confusos, imersos nesta mentalidade tão própria do nosso tempo que identifica felicidade com prazer e conforto?

Discernir sobre esse conceito e buscar a verdade sobre ele nos fará dar novos rumos à nossa vida e à nossa família.

Nós fomos criados para muito. Temos um potencial enorme de crescimento, de doação, de aperfeiçoamento e, exatamente por isso, nossa felicidade verdadeira nunca residirá em vida fácil, sem propósitos maiores, sem realizações que deixam marcas. Quando falo disso, não quero absolutamente dizer que precisamos de grandes eventos – realizações mirabolantes. Ao contrário, os maiores projetos e as mais lindas marcas que podemos deixar residem no silêncio e aconchego de nossos lares, na formação dos filhos, na estruturação da família, na realização cotidiana heróica de vencermos nossas limitações e crescermos em direção à nossa melhor versão; em direção àquela versão capaz de doar-se pelos outros e de encontrar felicidade plena em fazer felizes os que amamos.

Sei que isso soa piegas, soa impossível, afinal, nascemos ouvindo e vendo exatamente o contrário: precisamos ter sucesso (material) para sermos felizes; precisamos realizar nossos desejos e sonhos para sermos felizes; precisamos de realização profissional para termos o reconhecimento que nos trará felicidade. Essa mentalidade orbita em nossa vida assim como o ar que respiramos; entra por todos os poros e, por mais que creiamos que não, nos contamina em alguma medida.

Aceitamos nos sacrificar pelo prazer de ter um corpo bonito e “sarado”, para crescer profissionalmente, para obter recursos materiais que nos possibilitem realizar os sonhos de consumo ou viagens que guardamos em nosso íntimo, mas olhamos com dificuldade para os sacrifícios necessários à boa formação dos filhos, à entrega ao cônjuge que nem sempre parece “merecer” nosso empenho. Cansamos, reclamamos, desanimamos diante desses trabalhos aparentemente sem relevância, sem reconhecimento, sem “retorno”.

Não há mal algum em termos sonhos, em desejarmos objetos ou viagens; ao contrário, tudo isso faz parte da vida e em si, não trazem problema. O problema está na desordem em que estamos mergulhados, no lugar que cada coisa ocupa na nossa vida e em nosso cotidiano.

Se buscarmos esses bens em primeiro lugar, surpreender-nos-emos em algum momento da vida com um vazio absurdo, com a decepção de não termos encontrado a felicidade verdadeira, aquela que não nos pode ser tirada.

Essa verdadeira felicidade para a qual fomos criados supõe um movimento de aperfeiçoamento da nossa natureza – pressupõe sairmos da condição egoísta imatura, rumo à capacidade de doação de nós mesmos por amor aos demais. Na família, encontramos um campo propício para esse amadurecimento.

Ao assumirmos o compromisso do amor ao outro e posteriormente ao recebermos novas vidas para cuidar e amar, necessariamente encontramos um caminho de crescimento no amor verdadeiro – amor que quer o bem do outro, amor que decide pelo melhor e não pelo mais fácil, amor que renuncia a si para fazer o bem que o outro precisa. É uma experiência fácil? Com certeza, não. Será sempre acompanhada de prazer e bons sentimentos? Claro que não. No entanto, além de fazermos o bem aos que nos são confiados, cresceremos na capacidade de amar e, consequentemente, na oportunidade de alcançar a verdadeira felicidade, aquela que brota no coração quando saímos de nós para nos darmos aos outros.

Sair do amor-próprio rumo ao amor ao outro é o caminho da maturidade, da liberdade e da felicidade que não se esvai. Na família, temos a rica oportunidade de percorrermos esse itinerário. Não deixemos essa oportunidade passar.

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