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Fidelidade matrimonial: não se trata apenas de mandar flores!

Em uma entrevista realizada com o ator e diretor de cinema argentino Ricardo Darín, em novembro de 2015, exibido originalmente no canal espanhol Antena 3, o entrevistador Risto Mejide, do programa “Al Rincón”, faz uma pergunta provocadora: Como é viver tanto tempo com a mesma mulher e ser fiel? 

Ricardo Darín, casado há quase quatro décadas com Florencia Bas, responde sem regateios: 

“Eu creio que o amor, sem dúvida alguma, está acima de tudo neste caso. Se não há amor, se não há afeto verdadeiro, profundo, se realmente não admirar, não querer, não abraçar a outra pessoa, é difícil durar tanto tempo”. E arremata sua resposta ao entrevistador: “Não há um dia sequer que não a olhe e não sinta o imenso privilégio que eu tenho de que a vida dessa mulher tenha se cruzado com a minha”. 

Em dezembro de 2018, no jornal Clarín, de Buenos Aires, na Argentina, Ricardo Darín responde a uma pergunta semelhante sobre a vida a dois e diz: “É preciso alimentar o casal diariamente e não acho que se trate simplesmente de mandar flores. As coisas premeditadas não funcionam. Para manter o frescor, é preciso escutar o outro, atendê-lo e mostrar isso, não cair na rotina”. […] “E é preciso ter sinceridade, ter o atrevimento de brigar se for necessário e não cair naquilo tão politicamente correto de engolir e engolir até explodir.” 

E, diante da firme convicção da beleza do Matrimônio, da vida conjugal, expressada por Ricardo Darín, o jornalista diz: “O senhor, sem dúvida, sabe do que está falando, pois está com a mesma mulher há 30 anos”. E Darín lhe responde: 

“Não, não é a mesma! Florencia vai mudando constantemente, está em movimento permanente. Todos os dias, ela me surpreende de alguma maneira, é incrível. É uma mulher que não te permite nenhum tipo de rotina. Dizer que ela deu sentido à minha vida é pouco; sem dúvida, ela salvou a minha vida.” 

Façamos uma pausa e nos perguntemos: o que é amar a mesma mulher [ou marido] por tantos anos e viver a fidelidade todos os dias? Leitor(a), o que você responderia? 

Ora, tal questionamento não deveria constranger ou tomar de susto um casal católico. Afinal, quando nos casamos, dissemos perante a familiares e amigos, diante de Deus: “Eu, Alecsandro, te recebo, Ane, por minha esposa. E te prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te. Na alegria e na tristeza. Na saúde e na doença. Todos os dias de nossa vida”. Prometo ser fiel, amar-te e respeitar-te, é o que disse, em outras palavras, Ricardo Darín. 

O amor humano, que é parte da natureza humana, não escapou ileso à corrupção que vitimou a humanidade inteira: o pecado original. Há, evidentemente, problemas que se manifestam na família, mas que muitas vezes não são problemas nem do casamento (matrimônio) nem da família; são problemas das pessoas que constituíram essa família, como diz o Padre Alípio Maia e Castro. 

O amor humano “é uma perfeição a atingir, uma capacidade a adquirir”. Implica a aquisição de virtudes sem as quais o amor seria um mero sentimento flutuante. Virtudes que exigem sacríficos e lutas pessoais para vencer o egoísmo, pois como diz o sacerdote irlandês Cornac Burke, “é raro o amor morrer de morte natural. Se um amor morre, o normal é que tenha sido assassinado, e o culpado é o amor-próprio.” 

São Josemaría Escrivá costumava dizer que “o Matrimônio é uma autêntica vocação sobrenatural”. Cristo nos chama a ser santos por meio do Matrimônio, através Dele, e nos dá uma graça específica para vivê-lo plenamente. O Matrimônio de Ricardo Darín e Florencia Bas, de certa maneira, ilustra essa realidade humana e sobrenatural. 

Há séculos tentam nos convencer de que o casamento católico fracassou. Insistem que a fidelidade e o amor conjugal são coisas de um passado que já não existe mais. 

No entanto, para o desespero destes profetas do hedonismo e do materialismo, surge sempre um novo Adão a dizer: “Não há um dia sequer que não a olhe e não sinta o imenso privilégio que eu tenho de que a vida dessa mulher tenha se cruzado com a minha”. Osso de meus ossos e carne de minha carne. 

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