Entre as muitas expressões bonitas da Liturgia do Natal, encontramos diversas vezes a palavra “hoje”: “Hoje nasceu para nós um Salvador” (Antífona do Salmo responsorial da missa da noite do Natal). Na aclamação ao Evangelho da mesma missa aparece: “Hoje nasceu para vós um Salvador, Cristo Senhor”. O Evangelho traz o anúncio do anjo aos pastores de Belém: “Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lc 2,11).
Também na missa da Aurora do Natal, encontramos diversas vezes a mesma referência temporal: “Hoje resplandecerá sobre nós a luz, porque nasceu para nós o Senhor” (Antífona de entrada). E ainda: “Hoje a luz resplandece sobre nós” (Salmo responsorial). “As nossas ofertas, ó Pai, sejam dignas do mistério que hoje celebramos” (Oração sobre as Ofertas).
Na missa do Dia de Natal, a palavra aparece com força especial: “Que possamos participar da vida divina do teu Filho, que hoje quis assumir a nossa natureza humana” (Oração da Coleta). E, mais uma vez, na aclamação ao Evangelho: “Hoje, uma luz esplêndida desceu sobre a terra”; e na Oração após a Comunhão: “Pai santo e misericordioso, o Salvador do mundo, que hoje nasceu e nos regenerou como teus filhos…”
Jesus, o Filho de Deus feito homem, nasceu em um determinado momento do tempo histórico; o evangelista São Lucas situa esse momento no tempo do imperador romano César Augusto, em um certo contexto histórico, social, geográfico e cultural. Isso é importante, pois significa que o Filho de Deus, de fato, entrou em nossa história, e não apenas espiritualmente. São João Evangelista vai além e diz, de maneira ainda mais realista: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).
Mas o HOJE da Liturgia do Natal é mais do que uma simples referência a um fato situado em determinado dia do calendário. Ele expressa um acontecimento que é supratemporal. O nascimento do Filho de Deus em nossa carne faz parte do “hoje” de Deus, que não tem passado nem futuro, mas é um eterno presente. O Natal não celebra apenas um momento situado dois milênios atrás, mas refere-se à entrada de Deus e de seu Filho em nosso tempo, em nossa história. É por isso que nós também podemos dizer: hoje Jesus nasceu para mim e para todo povo do nosso tempo. E podemos alegrar-nos, ainda mais do que os pastores de Belém, acolher sua chegada, prestar-lhe homenagem, deixar-nos envolver com a sua luz radiosa. Isso é extraordinário!
Por isso, a celebração do Natal vai além de um dia marcado no calendário: é sempre de novo uma ocasião para acolher o Deus que vem ao nosso encontro. Jesus já veio no passado; veio para ficar conosco como “Emanuel”, que significa “Deus conosco” (cf. Is 7,14; Mt 1,23). Tantos ainda não O acolheram, nem reconheceram, permanecendo indiferentes em relação ao Filho de Deus Salvador. Outros perderam a fé, tornando-se errantes por seus próprios caminhos, sem luz e sem esperança. Para todos Ele veio e seu Natal é “boa notícia para todo o povo” (cf. Lc 2,10). E para os que já creem, Ele vem sempre de novo para aumentar sua alegria e confiança, fortalecer a sua fé e esperança e lhes dar a ocasião de serem testemunhas dessa boa notícia para o mundo.
Neste Natal, acolhamos de maneira renovada o “hoje” de Deus e da vinda de seu Filho a nós. Podemos dizer, com razão: Ele está no meio de nós! Vamos ao seu encontro com louvores, homenagens e súplicas. O HOJE de Deus é irrevogável, não conhece pôr do sol nem noite, mas é o eterno Dia do Senhor compartilhado conosco.
Desejo um feliz e santo Natal a todo o povo da arquidiocese de São Paulo. Alegremo-nos todos no Senhor! HOJE, Deus nos manifestou a sua luz, seu amor misericordioso, sua proximidade para conosco, fazendo-nos ver nosso futuro, nossa esperança! HOJE nasceu para nós um Salvador, que é Cristo, o Senhor! (cf. Lc 2,11).





