Igreja sinodal em saída missionária

No domingo passado, 17 de outubro, fizemos a abertura do processo sinodal da Igreja, a caminho da assembleia geral de 2023, do Sínodo dos Bispos. O tema daquela assembleia é a “sinodalidade”, e o Papa Francisco convocou toda a Igreja a fazer uma experiência sinodal durante esses dois anos de preparação. Em todas as dioceses do mundo, os bispos também celebraram com seu povo essa mesma abertura e iniciaram o caminho sinodal.

Trata-se de um momento novo e inédito na vida da Igreja, quando o inteiro povo de Deus é chamado a sair ao encontro uns dos outros para uma grande e atenta escuta e discernimento sobre a situação da Igreja e sobre a nossa missão neste tempo. Mais uma vez, somos chamados a “ouvir o que o Espírito diz à Igreja”, como já alertou a palavra de Deus no fim do primeiro século do Cristianismo (cf. Ap 2-3).

Muitos se perguntam sobre o significado do momento que a Igreja vive. A sinodalidade é a palavra mágica que vai resolver tudo por encanto? A bem da verdade, a Igreja não está propondo conceitos novos só pelo gosto da novidade. A sinodalidade indica uma qualidade originária da Igreja, que tendemos a esquecer com o passar do tempo, obscurecendo também a nossa compreensão da Igreja. A Igreja, na sua origem, é a comunidade dos discípulos que estão com Jesus, ouvem dele a palavra de Deus e aprendem a segui-la e a seguir o exemplo de Jesus, caminho, verdade e vida para todos. E uma das coisas que Jesus mais recomendou aos discípulos foi a unidade e a comunhão com Ele e entre eles.

Em outras palavras, a Igreja é uma experiência de fé e de comunhão, vividas juntos; de caminho feito juntos, de interesse de uns pelos outros, de missão assumida juntos e de busca da grande esperança que anima a todos. E isso tudo outra coisa não é do que uma Igreja sinodal. Os apóstolos, sobretudo São Paulo, destacam muito a importância da experiência da fé, esperança e caridade vividas em comunhão. São Paulo ensina que a Igreja é como um corpo, no qual há uma cabeça (Cristo) e muitos membros e funções (nós). Cada membro cumpre a sua função para o bem do corpo inteiro e, por isso, todos os membros são importantes, embora não desempenhem a mesma função.

As circunstâncias do tempo e da cultura levaram a identificar a Igreja com o clero (clerical) e que o povo é “ajudado” ou “beneficiado” pela Igreja. Isso foi levando as pessoas a um desinteresse e distanciamento crescente em relação à Igreja, considerada como “coisa do clero”, uma instituição clerical. Essa mentalidade clerical da Igreja é prejudicial à vida e à missão da Igreja, pois faz perder sua vitalidade e dinamismo. A Igreja, compreendida como povo de Deus, povo de batizados, com dons e carismas diversos, tem uma grande capacidade de renovação e revitalização. Por isso, o Papa Francisco está chamando todos os membros da Igreja a se tornarem mais conscientes de sua participação na vida e missão da Igreja, que não pode ficar apenas na dependência do clero. A missão do clero é importante e imprescindível, mas a missão do povo de batizados também é imprescindível.

Dentro de um mês, celebraremos a Assembleia Eclesial da Igreja da América Latina e do Caribe, na Cidade do México e em todo o continente americano. Os participantes serão mais de mil, mas a maioria ficará em seus países e participará pela internet. O tema da assembleia é “Somos todos discípulos missionários em saída”. Mais uma vez, aparece a preocupação da Igreja missionária, que deve ser de todos, e que acontece num movimento de saída e “desinstalação”, rompendo as barreiras da própria zona de conforto. O anúncio do Evangelho é um bem para todos e, por isso, essa é uma tarefa urgente e sempre atual.

Também nosso sínodo arquidiocesano, um “caminho de comunhão, conversão e renovação missionária”, está em sintonia com toda a Igreja, através do chamado do Papa Francisco e, também, da convocação da Assembleia Eclesial da Igreja da América Latina e do Caribe. Este é um momento bom para aprofundarmos a nossa experiência sinodal em São Paulo.

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