Igreja sinodal: que é isso?

Embora já se tenha dito e escrito muito sobre o Sínodo, percebo que ainda é preciso dizer mais, e de forma clara, pois há muita desinformação sendo espalhada e tomando conta até mesmo de ambientes da Igreja Católica. Naturalmente, nenhuma palavra será suficiente para quem não lê e não se informa. Sobretudo, é preciso informar-se em fontes seguras, não marcadas por preconceito contra a Igreja, que passem informações corretas, como são os noticiosos ligados à própria Igreja e à Santa Sé.

Lamentavelmente, certos comentários sobre o Sínodo denotam grande desinformação, quando não, o desejo de confundir as pessoas ou de pautar na opinião pública certos temas, como se fossem pautas da assembleia do Sínodo. Assim, por exemplo, não são temas desta assembleia do Sínodo a ordenação sacerdotal de mulheres, as questões morais ligadas às práticas homossexuais, a família ou o casamento, alguma mudança da doutrina católica sobre a Igreja ou sobre outras questões de fé expressadas no Creio em Deus Pai e explicadas no Catecismo da Igreja Católica. A assembleia do Sínodo também não trata de alguma mudança na norma moral, que tem por base os Dez Mandamentos e o Evangelho de Jesus.

O Sínodo dos Bispos é um organismo da Igreja, instituído pelo Papa São Paulo VI no final do Concílio Vaticano II (1965). O principal e grande objetivo do Sínodo dos Bispos é auxiliar o Papa nas reflexões, discernimentos e decisões sobre os grandes temas da vida e da missão da Igreja, tratados no Concílio. Por meio do Sínodo, o Papa consulta e ouve a Igreja. Assim, a dinâmica conciliar da colegialidade e corresponsabilidade dos Bispos pela Igreja estende-se para além do Concílio. O Sínodo é um organismo consultivo e não deliberativo.

O Sínodo dos Bispos tem, na Santa Sé, uma sede e uma Secretaria Geral para desenvolver os trabalhos que lhe são próprios; possui um Conselho ordinário, formado de cerca de 15 membros, que ajudam a Secretaria Geral e o Secretário Geral do Sínodo a cumprirem as missões que lhe são atribuídas pelo Papa. A cada três ou quatro anos, o Sínodo realiza uma assembleia geral ordinária, com participantes escolhidos pelas Conferências Episcopais e pelo próprio Papa, conforme o Regulamento próprio. Por meio das assembleias sinodais, o Papa consulta a Igreja, sobretudo os episcopados, ouve, reflete com ela e, depois, toma as decisões que lhe cabem.

No dia 4 de outubro deste ano, o Papa Francisco inaugurou mais uma assembleia geral ordinária do Sínodo, cujos trabalhos se estenderão até o próximo dia 29 de outubro. O anúncio desta assembleia já aconteceu em 2021, quando o Papa definiu o tema da assembleia sinodal: “Igreja sinodal: comunhão, participação e missão” e convocou toda a Igreja a se envolver na preparação da assembleia. Em vez de enfocar algum aspecto particular da vida e missão da Igreja, desta vez o tema é a própria Igreja: como ela deve ser, como deve viver e cumprir sua missão, para ser aquilo que Jesus Cristo espera dela? O tema tem como referência o grande e importante documento conciliar – Lumen gentium – que, justamente, trata da Igreja.

Portanto, desta vez, a assembleia do Sínodo trata de questões essenciais da Igreja, que precisa ser mais “sinodal”, ou seja, caminhar unida, todos juntos com Jesus Cristo, tendo por referência comum a Palavra de Deus e o patrimônio da fé, dos Sacramentos e da vida cristã. A Igreja precisa viver a comunhão, como Jesus pediu, todos unidos pelo mesmo dom da filiação divina recebida no Batismo e na graça do Espírito Santo, que une e não divide. Na Igreja, todos precisam estar interessados no bem, uns dos outros, e não ser indiferentes e individualistas; a Igreja precisa viver a alegria da fé, da esperança e da caridade e transbordar esses dons na ação missionária e no testemunho de que o Reino de Deus já está presente no meio de nós e no mundo. Uma Igreja sinodal precisa comprometer-se mais na missão de anunciar, de muitos modos, o Evangelho. Uma Igreja sinodal vive a grande esperança e todos caminham juntos na direção da mesma meta, que é a casa do Pai, a vida eterna e a plenitude do Reino de Deus. A Igreja sinodal não é uma instituição “do clero”, mas a comunidade de todos os batizados, o “santo Povo de Deus”, enriquecido por muitos dons, carismas e capacidades a serem colocados a serviço do Evangelho e da ajuda de uns pelos outros.

O Papa Francisco não se cansa de repetir que o Sínodo não é um Parlamento e não cabem no Sínodo certos “arranjos políticos”, com a pressão de um ou outro grupo de influência. Trata-se de “ouvir o Espírito Santo” (“Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às Igrejas” [cf Ap 2 e 3]) e de ouvir uns aos outros, buscando juntos compreender qual é a vontade de Deus. O grande animador da Igreja é o Espírito Santo e, por isso, é preciso rezar muito pelo Sínodo, para que o Espírito Santo renove “por dentro” a vida da Igreja. Este é o momento de uma nova tomada de consciência sobre quem somos, enquanto Igreja, para que existimos e como devemos nos expressar no mundo, enquanto Igreja. Também os membros da assembleia sinodal, em Roma, estão rezando muito, junto com o Papa, ao longo dos trabalhos da assembleia. “Vinde, Espírito Santo, e renovai a face da terra e da Igreja!”

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