Jesus deixou que um homem expulsasse demônios, pois “ninguém faz milagres em Meu nome para logo falar mal de Mim” (Mc 9,39). Os exorcismos e milagres verdadeiros somente são possíveis pela fé em Cristo e com a força de Deus. Destruir a ação do maligno pertence somente a Ele: “Se é pelo dedo de Deus que Eu expulso demônios, então é chegado até vós o Seu Reino!” (Lc 11,20). Sustentado pelo Céu, aquele homem apenas fazia o bem.
Não era, portanto, um dos tantos charlatães que, ao longo da história, realizariam falsos milagres para confundir os fiéis. Não era um feiticeiro que causava fatos extraordinários mediante a ação do próprio demônio. Não era tampouco alguém que se opusesse a Jesus ou aos Apóstolos. Ele seguia o Mestre, mas não fazia parte do círculo de discípulos mais próximos. A Igreja, porém, devia crescer e incluir mais gente que o pequeno grupo inicial! Por isso, o Senhor disse: “Quem não é contra nós é a nosso favor” (Mc 9,40).
Essa benevolência, contudo, deve ser lida à luz de outra passagem. Quando fariseus O acusaram de expulsar demônios pelo poder de satanás, Jesus declarou: “Quem não está conosco, está contra nós; quem não recolhe conosco, dispersa” (Mt 12,30). Portanto, Ele não dava autorização para a criação de seitas, fraturas e divisões na sua Igreja. Apenas mostrava que o apostolado não é um privilégio de poucos, nem deve ser controlado e restrito devido a preferências pessoais, antipatias ou – pior – ao desejo de mandar e controlar os demais.
Jesus também declarou a necessidade de se discernir quem está realmente agindo em seu nome: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vem a vós vestidos de ovelhas, mas por dentro são lobos ferozes!” (Mt 7,15). O critério para se saber quem age conforme Cristo é este: “Pelos frutos os conhecereis” (Mt 7,20). Os que falam coisas belas aparentam ser bonzinhos, mas não dão o bom fruto da fidelidade, não passam de mentirosos. Os que parecem até fazer milagres, mas não obedecem aos Mandamentos e à verdadeira fé, são, na verdade, lobos.
Afinal, “nem todo aquele que Me diz ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos Céus, mas sim o que faz a vontade do Meu Pai” (Mt 7,21). Ainda que alguém faça aparentes “sinais”, não terá proveito algum se no seu coração, em lugar da fé e da caridade, houver apego ao dinheiro, impureza, heresia, politicagem e irreverência. Suas palavras adocicadas desmentidas pela má conduta servirão apenas para causar escândalo, levando os fiéis à dispersão, ao erro e ao pecado. Belas palavras e sinais até Judas realizou.
O Senhor prometeu recompensar a mínima obra boa, até a doação de um simples copo d’água. Recompensará ainda mais as grandes obras e prodígios feitos em Seu Nome! Não tolerará, porém, o escândalo. A quem ensinar o mal, confundir as consciências, semear a confusão, ostentar obras más com orgulho e corromper os mais jovens… “Melhor seria que fosse jogado no mar com uma pedra de moinho amarrada ao pescoço” (Mc 9,42).