O Domingo de Ramos dá início à nossa “Semana Maior”. Cristo entra em Jerusalém como Rei sobre um jumento, tal como fizera Salomão (cf. 1Rs 1,33). Depois de uma breve aclamação, porém, o Senhor passa pela dolorosa Paixão. Este Domingo reúne em si o júbilo dos que, estendendo panos e ramos, exultam “Hosana!” (“Salva-nos”, Mc 11,9) e o furor daqueles que entoam “Crucifica-o!” (Mc 15,13). No mundo, jamais faltará um pequeno rebanho que o ame. Contudo, assim como na parábola, “os seus cidadãos o odeiam e dizem: ‘Não queremos que este reine sobre nós!’” (cf. Lc 19,14).
A marca desta celebração é a humildade de Cristo! Ele sabe ser aplaudido e rejeitado, com consciência de que isso não altera a verdade sobre Si diante do Pai. A milícia celeste encontra-se a seu dispor (cf. Mt 26,53), contudo Ele monta um jumento emprestado, pois “o teu Rei vem a ti, justo e vitorioso; humilde, montado sobre um jumento” (Zc 9,9). Ele é Deus com o Pai, mas “tornando-se igual aos homens, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2,7-8).
A humildade do Senhor vai ainda além: antes de se entregar nas mãos dos judeus, entrega-se como Pão da Vida nas mãos de homens limitados. Volta-se para os apóstolos, após anunciar que seria traído, e diz: “Tomai, isto é o meu corpo” (Mc 14,22). Aceitou um alto preço para ficar conosco e renovar perpetuamente o seu Sacrifício. Na Eucaristia, Jesus se esvazia ao máximo: nela nem sua divindade e sequer sua humanidade são reconhecíveis pelos sentidos! A humilhação de Cristo na Paixão, de certo modo, se prolonga pela história, no desleixo, na irreverência e na indignidade com que infelizmente, não raro, o Santíssimo Sacramento é distribuído, recebido e conservado.
Pilatos se admirava, pois Jesus não se defendeu durante a Paixão (cf. Mc 15,5); nós deveríamos nos espantar pois Ele, silencioso, não se levanta contra os sacrilégios, as indiferenças e a incredulidade com que frequentemente é tratado na Eucaristia. Cumpre-nos, portanto, adorar este admirável Sacramento que encerra em si o mistério da Paixão; receber a Hóstia consagrada – que é Jesus – sempre em estado de graça; e procurar reparar, com piedade e zelo, as ofensas que Lhe são feitas, pois, “ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra” (Fl 2,10).
Hoje, dizemos ao Pai: “Para dar aos homens um exemplo de humildade, quisestes que o nosso Salvador se fizesse homem e morresse na cruz; concedei-nos aprender o ensinamento da sua Paixão e ressuscitar com ele em sua glória”. Não existe caminho para a salvação a não ser a humildade de Jesus Cristo, que se rebaixou para nos elevar. Precisamos amar e imitar essa virtude do Redentor: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
A humildade é instrumento do amor, pois nos permite nos entregar; ter paciência em meio a dores e injustiças; e compreender os defeitos e pecados alheios. Que Cristo, humilde e manso, faça o nosso coração semelhante ao seu!