2º Domingo da Quaresma
Vários eventos do Antigo Testamento eram prefiguração de Jesus Cristo. Providencialmente, por meio de personagens bíblicos, Deus anunciou a futura vinda de seu Filho, sua Paixão, Morte e Ressurreição.
São exemplos disso Abel, o inocente assassinado por inveja; Melquisedec, o sacerdote que oferta pão e vinho; José do Egito, vendido por inveja; Jonas, tornado à vida depois de três dias no ventre de um peixe; o cordeiro pascal; e a serpente de bronze, que salva os israelitas do castigo mortal. Esses eventos tiveram pleno cumprimento em Cristo, de quem eram uma imagem. Outro evento que só pode ser compreendido à luz da vinda do Senhor é o oferecimento que Abraão fez de seu filho Isaac.
Na Antiguidade, era costume entre os pagãos oferecer filhos em sacrifício aos deuses. Um caso conhecido é o ídolo Moloc, em nome do qual crianças eram “passadas pelo fogo” (cf. Lv 18,21; Jr 32,25). Nesse contexto,“Deus pôs Abraão à prova”, pedindo que oferecesse o tão esperado e amado primogênito no monte Moriá. Obviamente, o Senhor estava apenas testando a fé do patriarca e não permitiria tal pecado. Porém, a Igreja interpretou esse fato como prefiguração do sacrifício que o Filho único de Deus, Jesus Cristo, ofereceria de si mesmo sobre o Calvário.
Levando às costas a lenha do próprio sacrifício (cf. Gn 22,6), Isaac – qual Cristo portando a Cruz – agiu como sacerdote e vítima. Assim como Jesus no Calvário, chamou Abraão de “Pai”, antes de fazer a pergunta perturbadora: “Mas, aonde está o cordeiro?” A resposta de Abraão foi profética: “É Deus quem proverá o cordeiro, meu filho” (Gn 22,7s). Deste modo, previu duas coisas: que, em poucos instantes, o cordeiro providencialmente preso num arbusto substituiria seu filho Isaac; e que, no futuro, Jesus Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, não seria poupado ao sacrifício, mas Ele mesmo nos substituiria para expiar nossos pecados. Maravilhado por este mistério, São Paulo perguntaria: “Se Deus está conosco, quem será contra nós? Aquele que não poupou o Seu próprio Filho, mas o entregou por nós, como não nos agraciará em tudo juntamente com Ele?” (Rm 8,31s).
Jesus Cristo resume em si e leva à perfeição tudo o que Deus fez, ensinou e deu “na Lei, nos profetas e nos Salmos” (Lc 24,44), isto é, no Antigo Testamento. Por isso, quando se transfigurou aos apóstolos, manifestando a glória celestial, Jesus foi ladeado por Elias e Moisés, representantes dos profetas e da Lei. Cristo resume em si as Escrituras! Sem sua Encarnação, Paixão, Morte, Ressurreição, e sem a efusão do Espírito Santo em Pentecostes, a história da salvação seria incompreensível, incompleta e imperfeita.
Por isso, Santo Agostinho diz que “o Novo Testamento se esconde no Antigo, e o Antigo se manifesta no Novo”. E, segundo Hugo de São Vitor, “toda a Escritura divina é um livro e este livro é Cristo”. É Ele quem, “começando por Moisés e percorrendo os profetas, interpreta nas Escrituras o que se diz Dele próprio” (Lc 24,27).