“Como o meu Pai me amou, assim também eu vos amei” (Jo 15,9), diz Jesus. O Pai o ama eternamente na união perfeita do Espírito Santo, amor divino em Pessoa. O Senhor, contudo, expande o coração e declara na Última Ceia, aos apóstolos e a nós, que nos ama “como o Pai me amou”. Que maravilha da graça!
Conhecendo nossa inconstância, Ele ainda apela: “Permanecei no meu amor!” (Jo 15,9).
Ama-nos gratuitamente e pede humildemente que não o abandonemos. Nós é que precisamos Dele, mas Ele é quem pede. Jesus deseja nossa salvação mais do que nós mesmos! Frequentemente, aspiramos àquilo que é passageiro, vaidade ou pecado… Ele, em vez disso, convida-nos amavelmente para o que é eterno e celestial, para si mesmo.
Por que o Senhor faz esse convite? “Eu vos disse isto para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (Jo 15,10s). Dois “quereres” caracterizam o amor: a união com a pessoa amada e o verdadeiro bem do outro. Mais do que nós, Ele quer permanecer conosco; sem que mereçamos, Ele quer nossa salvação. E esta é a base sobre a qual podemos edificar o amor a Deus e ao próximo.
Amar é um “dever”: “Este e o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Contudo, não somente devemos, mas “podemos” amar! Não porque sejamos “bons”, mas porque, amando-nos, Ele nos capacita a fazer o mesmo. “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de reparação pelos nossos pecados” (1Jo 4,10).
Saber-nos amados por Ele é o que nos possibilita amar, já que “o amor de Cristo nos impele” (2 Cor 5,14) a amar.
Aqui não falamos do “amor” falso, fundamentado nas diversões, paixões, prazeres impuros e na conveniência… Essas são formas requintadas de egoísmo, privadas do amor de Deus. Tampouco falamos do simples impulso de compaixão ou empatia. Qualquer pessoa, mesmo má e mesquinha, é capaz desses sentimentos, que são humanos e naturais. O amor “como Jesus nos amou” ou “como o Pai me amou” é sobrenatural: “O amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4,7-8).
O amor divino nos leva a compreender, a nos sacrificar e a perdoar. É um dom do alto, comunicado por meio dos sacramentos e da oração. De fato, “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). São Paulo descreve a sua atuação na alma: “O amor é paciente, é bondoso, não é invejoso, não é vaidoso, não se ensoberbece, não é inconveniente, não é interesseiro, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a iniquidade, mas se regozija com a verdade. Tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo perdoa” (1Cor 13,4-7).
Ao nos sentirmos incapazes de querer bem e de perdoar, precisamos buscar o amor em Deus, fonte da caridade. “Devemos” amar, pois Ele nos ordena; mas “podemos” amar, já que “não fostes vos que Me escolhestes, mas Eu que vos escolhi” (Jo 15,16). E Ele nos escolheu para amar.