12º Domingo do Tempo Comum – 20/06/2021
O Evangelho mostra Jesus sempre desperto. Passa noites rezando e, antes do sol nascer, já está em oração. Repreende o cochilo dos apóstolos, incapazes de rezar por uma hora, e lhes recomenda vigiar e orar constantemente!
A única vez em que o Senhor dorme no Evangelho coincide com um momento de dificuldade dos apóstolos: “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, que já começava a se encher. Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro” (Mc 4,37s). Com tristeza, eles se sentiam abandonados pelo Mestre: “Estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4,38).
A travessia “para a outra margem” (Mc 4,35), através de um mar tempestuoso, é comparável à viagem que a Igreja realiza, ao longo dos tempos, rumo ao Reino eterno. O mar é o mundo confuso, repleto de erros e de pecados, que quase leva a pequena nau a pique. Os ventos são as adversidades que atemorizam e fazem a tripulação desconfiar do Comandante. Jesus dorme num “travesseiro”; Ele, que é a Cabeça, parece estar apartado e indiferente à sorte do Corpo Místico… “Mas não! Não dorme nem cochila Aquele que guarda Israel” (Sl 121,4).
O sono do Senhor remete a seu silêncio na Eucaristia. No sacrário, parece “dormir” enquanto há guerras, revoluções, pestes e carestias. Parece “não se importar” com jogos palacianos de governantes e de eclesiásticos, com sacrilégios, apostasias e injustiças. O Senhor, porém, permite a tribulação somente até certo ponto. Não deixa que sejamos provados além das forças que Ele mesmo nos dá. Faz isso em vista de um bem maior: para que tenhamos uma fé pura e aprendamos a confiar somente Nele. Cedo ou tarde, a tempestade será silenciada num instante. Ele resolverá o que era humanamente impossível e retribuirá com justiça, conforme as obras e o coração de cada um. Por isso, diz: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4,40).
Também nossas vidas são uma “travessia” em direção ao Céu: navegamos da carne para a graça; do pecado para a salvação; da morte para a vida eterna. São Paulo nos adverte, portanto, a não sermos inconstantes como “crianças batidas pelas ondas e arrastadas por qualquer vento de doutrina” (Ef 4,14). É preciso que olhemos para Jesus, invoquemos Jesus, confiemos somente em Jesus. Ao fixarmos o olhar sobre as adversidades, ao imaginarmos possíveis perigos do futuro ou nos lamentarmos dos males, começamos a afundar em meio às ondas, como São Pedro.
Nesse percurso, a curiosidade sem fim pela “informação” (nova idolatria), as “discussões contínuas de homens de mente corrompida” (1Tm 6,5), o hábito de reclamar do mundo e da vida e a intemperança nas redes sociais são fontes de tempestades interiores! Perturbam a alma, impedem-na de se voltar para Deus, retiram a paz e o fervor. Unidas à falta de oração, essas atitudes entregam o homem a seus medos, paixões e ao próprio demônio. É hora de romper com elas e gritar: Senhor, salva-nos! Em nossa alma haverá uma grande calmaria.