‘Mestre, que eu veja!’

“No caminho” de Jerusalém, Jesus notou um bulício. Alguns dos que O acompanhavam repreendiam um homem “sentado à beira do caminho”… Ele gritava repetidamente: “Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!”. Era um cego pobre e mendigo. O Senhor poderia – como fizera a tantos outros – inclinar-se até ele. Mas apenas pediu que o chamassem… “Coragem, levanta-te, Jesus te chama!”, e o pobre “jogou o manto, deu um pulo e foi até Jesus”.  

Cristo sabia exatamente o que o homem queria, mas desejava uma vez mais testar a sua fé: “O que queres que Eu te faça?”. A resposta, repleta de confiança, traduz o que nós – homens e mulheres de fé – devemos suplicar ao Senhor: “Mestre, que eu veja!” (cf. Mc 10,46-52). 

Permitindo-nos distinguir a luz, as pessoas e os objetos, a visão é um dom pelo qual devemos continuamente agradecer a Deus. Mas, além disso, ela simboliza espiritualmente algo ainda mais importante: a capacidade de “ver” com a luz da fé. Uma luz divina e “inacessível” brilhou em nossas almas juntamente com a fé no dia do Batismo: “Foste iluminado por Cristo; caminha, de agora em diante, como filho da luz”. 

Nos Evangelhos, a luz significa misticamente a fé, a verdade, a graça, a vida eterna e o próprio Deus. Por isso, São João afirma que “Deus é luz” (1Jo 1,5)! Falando sobre a vinda e a rejeição de Jesus neste mundo, diz que “a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a compreenderam” (Jo 1,5). Segundo a Escritura, ama de verdade aquele que está na “Luz”: que se abre à Verdade, à Graça e à Vida eterna que vem de Deus por meio da fé. 

Por isso, muitos santos pediram diariamente ao Senhor: “Envia-me Tua luz e Tua verdade, elas me guiarão e levarão ao Teu Monte Santo e às Tuas Moradas” (Sl 42,3). Peçamos sempre ao Senhor a luz do conhecimento sobrenatural e do discernimento! E isso não apenas quando nos encontrarmos em confusão ou na penumbra. A Igreja nos ensina a pedi-lo constantemente: “Deus, que instruístes o coração dos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos todas as coisas segundo o mesmo Espírito”. 

Quem é Deus? O que Ele pede de nós? O que fazer nesta ou naquela situação? Como alcançar a vida eterna?… Para responder a estas e a outras perguntas, é necessário buscar respostas na Bíblia e no Magistério da Igreja – especialmente no Catecismo. Porém, qualquer leitura piedosa será infrutífera sem essa luz sobrenatural que o Senhor nos quer comunicar por meio da oração. Afinal, “a fé é um dom que Deus concede a quem pede com humildade” (Compêndio, 28).  

O Senhor espera que, como Bartimeu, lancemos fora o manto do comodismo, pulemos em Sua direção e, humildemente – como mendigos –, peçamos o que Ele já nos quer dar: “Senhor, que eu veja! Que eu veja o Teu Rosto, a Tua Beleza, os Teus caminhos!”. Será que seremos atendidos?… “Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo a quem pedir” (Lc 11,13). 

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