São Pedro foi o primeiro discípulo a professar que Jesus é o Cristo Salvador: “Tu és o Messias” (Mc 8,29). Ele possuía já o dom da fé, concedida diretamente pelo Pai celestial (cf. Mt 16,17). Ainda não tinha prudência sobrenatural, contudo, pois pensava “como os homens” e não “como Deus”. Após a confissão de fé, ao saber que Jesus “devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, e devia ser morto”, indignou-se e repreendeu o Mestre (cf. Mc 8,31s). Não compreendia que a Cruz seria um bem e a fonte da salvação.
A prudência é a virtude que dispõe a alma para discernir, em cada circunstância, o verdadeiro bem e os meios necessários para alcançá-lo. Quando é vivificada pela fé e pela graça, ela nos leva a “pensar como Deus”: a reconhecer o Senhor como o sumo Bem a ser desejado, e a tomar decisões de acordo com sua vontade. Esta prudência sobrenatural “é o amor que sabe bem discernir entre as coisas que nos ajudam e as coisas que nos impedem de nos encaminharmos para Deus” (Santo Agostinho).
Quando não é iluminada pela graça, porém, a prudência fica restrita aos limites da razão humana e tende a excluir Deus de seu critério. Então, a “prudência” humana se torna carnal, mundana e mesmo diabólica, pois “a prudência da carne é a morte” (Rm 8,6). Privada da luz sobrenatural, a inteligência do homem se ensoberbece e nos leva a desejar – até mesmo com boa intenção – aquilo que se opõe aos desígnios e à sabedoria do Criador. Por isso, Jesus repreendeu Pedro com força: “Vai para longe de mim, Satanás! Tu não pensas como Deus e sim como os homens” (Mc 8,33).
A razão humana é capaz de chegar até certo ponto… Sem o auxílio sobrenatural, não pode distinguir, em todas as situações, qual é o maior bem, “o que é verdadeiro, nobre, justo, puro, amável, honroso, virtuoso” (Fl 4,8). Sobretudo quando se trata dos mistérios de Deus e seus planos, padecemos uma enorme cegueira! Afinal, “é o Senhor quem dá a Sabedoria, e de sua boca procedem conhecimento e prudência” (Pr 2,6). Para adquirir a prudência, precisamos da luz que vem da Palavra de Deus, da oração e dos sacramentos; é necessário o dom do Espírito Santo do conselho.
A verdadeira prudência nos faz enxergar que nossa missão não é apenas terrena e que a união eterna com Deus é verdadeiro bem a ser buscado por cada homem. Ela nos faz ver que o meio para isso é a observância dos Mandamentos, em particular do amor a Deus e ao próximo. Ela permite compreender que o amor inclui a oração, a humildade, o esquecimento de si, a pobreza em espírito, a castidade, o sacrifício, a dor e, por vezes, a doação da própria vida em favor do outro.
Sabemos que “é em Deus que está a sabedoria e a força: Ele tem o conselho e a inteligência” (Jó 12,13)! Somente Ele permite compreender que a sabedoria é a “linguagem da cruz, loucura para os que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus” (1Cor 1,18). Peçamos-Lhe a verdadeira prudência!