“Eu sou o bom Pastor” (Jo 10,11), diz Jesus. Nele se cumpre a promessa divina: “Eu mesmo apascentarei minhas ovelhas e as farei repousar” (Ez 34,15). Semelhante a um pastor que recolhe as ovelhas, protegendo-as dos lobos e de toda sorte de perigos, Jesus Cristo é o único que pode conduzir os homens à salvação eterna. Conforme declarou São Pedro na presença dos grandes de Israel: “Em nenhum outro há salvação, pois não existe debaixo do céu outro Nome dado aos homens pelo qual possamos ser salvos” (At 4,12).
Olhando para Jesus como o Pastor que nos leva aos prados eternos, pensamos também naqueles têm a graça e o dever de participar do seu pastoreio: os padres e, especialmente, os bispos e o Papa. Ao celebrarem a Santa Missa, ao perdoarem os pecados, ao ungirem os enfermos, ao abençoarem os irmãos e rezarem pelos vivos e pelos mortos, eles podem dizer com São Pedro: “Ficai sabendo todos vós: é no Nome de Jesus Cristo de Nazaré que o fazemos” (cf. At 4,10). E não somente no nome, mas na sua pessoa (“in persona Christi”), pois é Cristo Quem age por meio dos ministros sagrados.
Para que o pastoreio seja mais fecundo, cumpre a nós, clérigos, buscar a semelhança com o Bom Pastor, até podermos dizer como São Paulo: “Não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20). Isso acontece quando a oração se torna prioridade absoluta na vida; quando há caridade; austeridade; espírito de trabalho e de sacrifício; estudo responsável; e quando se busca manter a alegria e a esperança mesmo diante de graves dificuldades. Então, se pode dizer: “Estou crucificado com Cristo. Esta vida na carne eu vivo na fé no Filho de Deus, que me amou e por mim se entregou” (Gl 2,20s).
Tanto é assim que o próprio Jesus nos deixou um critério claro: “O bom pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11). Isso ocorreu com tantos sacerdotes que, à semelhança de Cristo, por não quererem abandonar os fiéis, aceitaram sofrer o martírio, foram infectados por doenças ou morreram em situações de insalubridade… E com tantos sacerdotes que dão a vida diariamente, por meio do uso generoso do tempo, da aceitação do cansaço físico e mental, das orações e penitências, da mansidão diante de calúnias… Enfim, pela afirmação de Deus e renúncia de si mesmo.
Ao contrário, “O mercenário vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa” (Jo 10,12). É próprio do mercenário a dispersão! Dispersa os fiéis para longe da Igreja; as atenções para longe de Deus; e as consciências para longe da verdade. Por não buscar a glória de Deus, o mercenário se preocupa principalmente consigo mesmo, em ter aplausos e aprovação ou, como Judas, com o dinheiro. Mas, de um coração dissipado, pode vir apenas dissipação.
Supliquemos a Jesus que, apesar de nossas falhas e defeitos, tenhamos um desejo forte e sincero da glória de Deus e não da nossa. Se isso acontecer, sua graça compensará nossa fraqueza! O Bom Pastor agirá em nós e apesar de nós, e salvará suas ovelhas.