O Dia do Senhor

Nas etapas que precederam e prepararam a vinda do Redentor, Deus falara muitas vezes e de muitos modos ao povo de Israel (Hb 1,1-2). Inicialmente, a Revelação divina ocorreu de modo indireto e fragmentário. Por meio de Noé, Abraão, Moisés e os profetas, o Pai seguiu uma pedagogia divina, respeitando a capacidade de entendimento dos indivíduos e de seu Povo. No tempo certo, finalmente comunicou-se a Si mesmo em Jesus Cristo.

Cristo é o Mediador de toda a Revelação pois, antes mesmo de se encarnar, o Verbo eterno de certo modo já “falava” por meio da criação e da Palavra revelada no Antigo Testamento. Ao nascer da Virgem Maria, o Verbo ou Sabedoria de Deus tornou-se a plenitude de toda a Revelação, Deus Conosco que diz “quem Me vê, vê o Pai” (Jo 12,45; 14,10). Cristo não veio para abolir o que havia sido revelado até então, mas para levar tudo ao pleno cumprimento (Mt 5,17). A sua vida e os seus ensinamentos, todavia, comportam sob certos aspectos uma superação daquilo que havia sido anteriormente revelado a Moisés e aos profetas.

Há que se diferenciar no Antigo Testamento entre os ensinamentos permanentes e os transitórios. São permanentes, por exemplo, os ensinamentos acerca de um só Deus, criador de todas as coisas, que sustenta o universo com o poder de sua Palavra; do Reino de Deus; da posteridade prometida como herança a um Povo; da lei natural expressa nos Dez Mandamentos etc. Outras instruções, contudo, eram transitórias, tais como o sacerdócio levítico, o templo de Jerusalém, as normas de pureza ritual, certa permissão do divórcio etc.

Alguns desses elementos transitórios eram tão importantes na prática judaica que o seu abandono por parte dos primeiros cristãos é uma comprovação de que os apóstolos reconheceram a Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo como o início de uma Tradição religiosa nova e definitiva. A obrigação da circuncisão, até então considerada essencial, foi deixada de lado (cf. At 15). Deus, “capaz de extrair das pedras filhos de Abraão” (Mt 3,9), associa-nos a Si, a partir de Cristo, por meio do Batismo na água e no Espírito.

De modo semelhante, a observância do Sábado (Dt 5,12) – decorrência direta do terceiro Mandamento – deu lugar ao preceito do Domingo. O sétimo dia – dia do repouso da primeira Criação – foi substituído pelo primeiro ou oitavo dia: o dia da Ressurreição de Cristo e da Nova Criação (2Cor 5,17). Os apóstolos perceberam isso e passaram a se reunir para a Eucaristia aos domingos, reconhecendo este como o verdadeiro “dia do Senhor” (Ap 1,10).

O preceito do Domingo não é uma mera norma ritual. Corresponde à necessidade de todo homem de colocar Deus ao centro do ciclo de sua vida; de adorar o seu Criador; de unir-se realmente, por meio da Santa Missa, à Redenção realizada por Cristo. A Missa dominical nos une aos Apóstolos, aos Santos, à Igreja de todos os tempos e, principalmente, Àquele que disse: “Eis que faço novas todas as coisas” (Ap 21,5).

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