O joio e o trigo

O Reino dos Céus já está presente entre nós de diversos modos: na Eucaristia, que é sua antecipação neste mundo; nas almas em estado de graça, nas quais habita a Santíssima Trindade; e na Igreja, gérmen do Reino na terra. Cristo vive na Igreja e, como Cabeça em relação ao corpo, guia-a e santifica-a de modo inseparável.

No presente estágio, porém, ainda não é possível saber exatamente quem são “os que pertencem ao Reino” e quem são “os que pertencem ao Maligno” (Mt 13,38). É verdade que as condições de pertença à Igreja são claras: crer em Jesus, ser batizado, viver conforme os seus ensinamentos e não incorrer em cisma ou em heresia. Sendo impossível, contudo, saber as disposições interiores de cada homem, bem como todas as suas obras e pensamentos, não podemos verificar quem de fato está na graça e na caridade de Deus. Por enquanto, misturam-se santidade e pecado, o “trigo” e o “joio” (Mt 11,25).

As sociedades e as almas individuais vivem um constante conflito entre verdade e mentira, bem e mal, pecado e graça, salvação e condenação. O diabo – semeador da má semente (cf. Mt 13,39) – é mestre em suscitar o joio e confundir o mal com o bem: ideologias “salvadoras”, “humanismo” sem Deus, inversão de valores, ideais distorcidos de felicidade, aborto e eutanásia propostos como “direito”, redução do amor aos desejos, confusão identitária etc. É missão da Igreja ajudar os homens a perceber esses erros e erradicá-los de suas vidas.

O joio mais difícil de se detectar, todavia, é a dissimulação daqueles membros da Igreja que – mais ou menos conscientemente – optam pelo mal e a mentira. A esses o Senhor chamou “lobos em pele de cordeiro”. São os que, declarando-se cristãos, vivem sem remorsos de modo contrário às promessas feitas no Batismo, no Matrimônio, na ordenação ou na consagração religiosa. Aparentam “bondade”, mas levam os outros ao erro e ao pecado. Sentem-se acima do bem e do mal, propagando ideias errôneas como se fossem Palavra de Deus. Servem-se da Igreja de Cristo para fins ideológicos e ilícitos: ganância, libertinagem, vaidade, domínio sobre os demais, instrumentalização política, vaidade etc.

Imiscuídos entre os membros santos do Corpo de Cristo, em certos casos pode ser difícil identifica-los. Por isso, o Senhor avisa que no campo da Igreja há plantas semeadas tanto por Deus quanto pelo Maligno e recomenda: “Deixai crescer um e outro até a colheita!” (Mt 13,30). O Juízo Final restabelecerá publicamente a justiça que não podemos realizar na Terra. Nações, eventos, personalidades históricas e eclesiásticas serão julgados publicamente. Será conhecida a verdade sobre todas as obras e intenções dos indivíduos, nações e instituições. Os maus serão desmascarados e os injustiçados receberão a justa reparação. Esta é nossa certeza! Então, os Anjos de Deus “retirarão do seu Reino todos os que fazem outros pecar e os que praticam o mal; e os lançarão na fornalha de fogo”. Ao invés, “os justos brilharão como sol no Reino do Pai” (Mt 13,41-43).

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