‘O que ligares na terra será ligado no céu’ 

Jesus veio ligar os homens ao Pai. Na Pessoa do Filho – Deus e Homem verdadeiro – unem-se o humano e o divino. Suspenso na Cruz, Cristo ergueu a ponte que liga a terra ao céu; atravessamo-la pelo Batismo, que inunda a alma com a graça e nos faz herdeiros da vida eterna. A Revelação e os sacramentos se destinam a contribuir para essa maravilhosa união do homem com Deus. O Senhor veio salvar o que estava perdido e atar o que estava solto. 

Portanto, o sentido da presença da Igreja no mundo é ligar a terra aos Céus. Ela o faz por meio do perdão dos pecados, administrado generosamente no Batismo e no sacramento da Confissão. Tal missão foi confiada no cenáculo: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,22). A Igreja de Cristo é católica – isto é, universal – pois deve perdurar por todos os tempos, estender-se por todos os povos da terra, e convocar a todos os homens a se reunirem num só redil, ligados a um único Pastor. Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens, “Apóstolo e Sumo Sacerdote de nossa profissão de fé” (Hb 3,1). O apostolado (ou evangelização) e o sacerdócio da Igreja provêm Dele.  

Participam dessa função sobrenatural de “ligar e desligar” todos Bispos. Exercendo, em nome de Cristo, a jurisdição sobre as dioceses a eles confiadas, os sucessores dos Apóstolos têm a prerrogativa – que é, na verdade, um dever – de ensinar a verdadeira fé recebida da Tradição apostólica e de perdoar os pecados. Essa missão é compartilhada com os presbíteros ou padres, que participam do mesmo sacerdócio de Cristo e o exercem em comunhão com os seus respectivos Bispos. De um modo absolutamente singular, esse ‘poder das chaves’ de ligar e desligar pertence ao Papa. Ele é o sucessor do Apóstolo São Pedro e exerce jurisdição direta e universal sobre toda a Igreja; deste modo, é o primeiro a possuir o poder dado por Deus de perdoar ou não perdoar e de ser o mestre da fé. 

A fé da Igreja não é uma doutrina meramente humana: “não foi um ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu” (Mt 16,17). A sua correta exposição, porém, depende da retidão e da rigorosa preparação dos sacerdotes, que devem evitar que o tesouro da fé se sujeite ao arbítrio de cada geração. Igualmente, o perdão dos pecados é algo que pode ser conferido apenas por Deus (cf. Is 43,25). A correta administração da Confissão, porém, depende das boas disposições do penitente, bem como do reto juízo do ministro sagrado. Rezemos por todos os que na Igreja têm essa tremenda missão de ensinar e de perdoar! 

Sabemos que, graças a Deus, “o poder do inferno nunca poderá vencer” a Igreja (Mt 16,18). Contudo, devemos trabalhar e rezar para que nossas comunidades permaneçam firmes na fé apostólica, na prática da virtude e na graça santificante. Que a negligência, ignorância ou superficialidade dos homens jamais desliguem aquilo que Deus ligou! 

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