O tesouro escondido

Nosso Senhor compara o reino dos Céus a um “tesouro escondido no campo” (Mt 13,44). Na vida presente, o mundo sobrenatural permanece invisível, perceptível somente à luz da fé. A presença de Cristo na Eucaristia, a ação do Espírito Santo por meio dos sacramentos, o sentido espiritual das Escrituras e – de modo especial – a presença da graça santificante nos fiéis são recognoscíveis somente por aqueles que, com alegria, “vendem todos os seus bens e compram aquele campo”.

Chamamos de “estado de graça” aquela disposição habitual da alma que se encontra orientada para Deus como seu fim sobrenatural. Recebemos a “graça santificante” no Batismo, quando o Espírito Santo foi derramado em nossos corações. Ela é perdida a cada vez que cometemos um pecado mortal e deve ser restituída por meio do sacramento da Confissão. Como um tesouro escondido ou uma semente enterrada na terra profunda, a graça divina se faz presente em silêncio na alma como o seu princípio de vida espiritual e o germe da vida eterna.

Por causa dela, Jesus disse: “Esta é a vida eterna, ó Pai: que Te conheçam a Ti, o único verdadeiro Deus, e Aquele que enviaste, Jesus Cristo!” (Jo 17,3). Possuindo fé, esperança e caridade sobrenaturais, o cristão em estado de graça santificante adquire um conhecimento amoroso de Deus e, de algum modo, já possui o paraíso no centro do seu ser. Pode, a qualquer momento, fechar os olhos e falar com Deus, pois o seu corpo e a sua alma tornaram-se morada da Santíssima Trindade. O Céu, depois das necessárias purificações, será o desdobramento desse estado habitual de amor e santidade!

A graça santificante vale mais do que todos os bens, do que a profecia e os milagres! É o grande tesouro pelo qual abrimos mão de tudo o que nos leva a pecar ou a perder a intimidade com Deus. Ela nos torna ‘deiformes’, isto é, semelhantes ao Senhor. Identifica-nos de tal modo com Jesus que Deus Pai, olhando para nós, vê os traços do Seu próprio Filho. Por causa da graça, somos chamados, especialmente, filhos de Deus!

Preservar a alma sempre em estado de graça é tão importante que, segundo Santo Inácio, o primeiro grau de humildade no caminho do amor a Deus consiste em se preferir morrer a cometer um único pecado mortal! A vida espiritual começa quando abrimos mão de tudo o que nos leva à perda da graça santificante, nosso grande tesouro. Após a nossa morte, a graça habitual dará lugar à visão da glória divina! Ela nos propicia já conhecer a Deus por meio da fé e do amor, mas se converterá na Sua visão face a face.

Cultivando a graça santificante por meio da oração, da frequência aos sacramentos, da assiduidade a leituras espirituais, da mortificação dos sentidos e do exercício do amor fraterno, cresceremos diariamente na vida interior. Descobriremos as maravilhas novas e antigas do Senhor. Encontraremos a Sabedoria de Cristo, maior do que a de Salomão. E viveremos, já neste mundo, com o coração e os olhos postos no Céu.

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