Alguém perguntou a Jesus: “É verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). A maneira como a questão é formulada mostra que os discípulos tinham consciência de que nem todos se salvarão. A este respeito, basta lembrar a pergunta do jovem rico: “O que devo fazer para herdar a vida eterna?” (Lc 18,18). Nessa ocasião, Jesus indicou uma condição para a salvação: “Observa os Mandamentos”!
Além disso, a preocupação com o número dos que serão salvos mostra que os discípulos entendiam que é difícil entrar no Reino dos Céus. Com efeito, em diversas passagens, o Senhor chama a atenção às exigências da salvação: “Como é difícil para os que têm riquezas entrar no Reino de Deus” (Lc 18,24); “se não receberdes o Reino de Deus como uma criança, não entrareis nele” (Lc 18,15); “estreita é a porta e difícil é o caminho que leva à vida” (Mt 7,14).
O Senhor, porém, não respondeu diretamente à pergunta, talvez por considerá-la impertinente ou mesquinha. Em vez de apenas dizer “sim, poucos se salvarão”, Jesus preferiu advertir amavelmente os discípulos: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,24). Desse modo, o Senhor repelia interpretações equivocadas de suas palavras.
Jesus desvinculou a salvação da pertença à raça judia. Para que os primeiros discípulos não pensassem que o Reino de Deus é uma prerrogativa israelita, restrita a um pequeno grupo predeterminado, o Senhor ensina que a salvação não está vinculada à origem e à nacionalidade, mas sim à fé e à prática da justiça: “Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!” (Lc 13,27). Desse modo, amplia as fronteiras da salvação para além do Monte Sião, até os confins de toda a terra.
Jesus adota, portanto, uma abordagem paradoxal. Por um lado, enfatiza a dificuldade de se entrar no Céu e a necessidade de um intenso comprometimento humano. Por outro lado, ensina que somos pecadores e que ninguém se salvará por seus próprios méritos, mas pela misericórdia e pelos méritos de Sua Morte redentora. Todos, diante Dele, somos como o ladrão arrependido. Assim, o caminho para a vida eterna é íngreme e difícil e, ao mesmo tempo, está ao alcance de todos! Basta que queiramos, confiemos, obedeçamos e nos deixemos guiar por Deus!
Por isso, ao falar sobre a futura desgraça das pessoas religiosas que são soberbas e que confiam em si mesmas, mas não em Deus, o Senhor prevê: “Haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. Virão homens do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus” (Lc 13,28). Deus é grande, é bom, é generoso e “quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2,4). No entanto, cabe a nós imitá-Lo e, sem cálculos ou mesquinhez, trabalharmos pela nossa salvação com confiança, amor, temor e tremor (Fl 2,12).