O coração, em sentido bíblico, não é só um órgão nobre, pois não somos apenas matéria. Tampouco se reduz à sede dos “sentimentos”. O coração é, por assim dizer, o lugar no qual a vida física se une à espiritual, o corpo à alma e o homem a Deus. É o centro da personalidade, para onde confluem os afetos, pensamentos, vontade e intenções. Por isso, Deus mandou-nos amá-Lo “com todo o coração” (Dt 6,5) e prometeu: “Escreverei a minha lei em seus corações” (Jr 31,33).
Jesus repreendia os fariseus porque as suas diligentes ações e orações não concordavam com o coração. Aparentemente, nutriam grande zelo e temor a Deus; contudo, suas práticas eram movidas por corações que, em vez de amor e humildade, palpitavam orgulho, avareza e hipocrisia. O Senhor os comparou a sepulcros caiados: belos por fora mas, nas intenções e pensamentos, repletos de ossos e podridão. Se o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração (cf. 1Sm 16,7)! Por isso, Jesus lamentou: “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mc 7,6). Que essa advertência não valha para nós!
Ao orarmos, é preciso que, apesar das normais distrações, haja concordância entre os lábios, os pensamentos e o coração. A própria oração, aliás, tem o poder de modelar nosso coração à Palavra e à vontade de Deus. Rezamos com as palmas das mãos postas junto ao tórax para que o Senhor estreite nossas mãos entre as suas e nos fale diretamente ao coração. Batemos no peito para repreender o coração inconstante e pecador. Oramos de braços abertos para escancarar o coração à vontade divina. Fazemos o sinal da cruz para que o coração seja selado, protegido e penetrado pela Santíssima Trindade.
Nosso Senhor ensina que “é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21s). Afinal, a soberba e o orgulho – raiz de todo pecado – encontram-se, tal como o joio em meio ao trigo, semeados no campo do coração humano. É daí que nascem o consentimento e a escolha do mal. Na Confissão, além de nos perdoar os pecados, Deus também purifica – com o Sangue de Jesus – nosso pobre coração. Cumpre-se o que pedimos no Salmo: “Criai em mim um coração que seja puro, sai-me de novo um espírito decidido!” (Sl 51,12).
É igualmente do coração, porém, que vem todo o bem! Ele pode conferir um sentido sobrenatural – de amor – até às menores ações de nossa vida. Ele é como um altar, de onde oferecemos a Deus nosso sacrifício de louvor. Com o coração, adoramos a Deus, bendizemos, intercedemos e perdoamos ao próximo. E, ainda que estivéssemos impossibilitados de agir e de nos mover, se pudéssemos dirigir, do fundo do coração, um único ato de amor a Deus e a um irmão, faríamos uma grande coisa, pois Deus “não despreza um coração contrito e humilhado” (Sl 51,19). Peçamos ao Senhor que nos dê um coração semelhante ao Seu, repleto de pureza e amor.