Luz e lições da Páscoa

Páscoa é sinônimo de passagem, mas é também festa da luz viva e verdadeira. Ou melhor: sol resplandecente que ilumina a travessia das sombras da noite para a luminosidade de um novo dia. Não um dia a mais entre tantos outros, num calendário suspenso na parede de nossas casas, mas, sim, uma data revestida de esplendor e sem ocaso. Dia ao qual, após a passagem pela Paixão, pela Morte e pelas trevas do sepulcro, o Filho nos abre o caminho. Pátria definitiva e sem igual, na qual brilharão para sempre o rosto e o amor do Pai.

As poucas mulheres que, ao pé da cruz, presenciam a tragédia da tortura e morte de Jesus parecem ter uma intuição velada do mistério que se descortina diante delas e da história. Com um cuidado singular, preparam o corpo do Nazareno, utilizam perfumes preciosos para ungi-lo, panos brancos para encobri-lo e, sempre com o mesmo cuidado, o depositam na tumba. É como se aquele corpo representasse uma semente. Em lugar de enterrado, deve ser semeado com todo carinho maternal. Ou seja, não ficará debaixo da terra, ao contrário, voltará revigorado para o ar livre, o azul do céu e a luz do eterno dia.

Duas razões em particular nutrem a intuição dessas santas mulheres. A primeira é de que jamais vento algum, por maior que seja sua fúria, poderá apagar a faísca que brotou no alto da cruz. Ali, a violência mais cruel e brutal, por parte dos homens, acaba sendo compensada, por parte do Filho, com o perdão gratuito. Assim, Jesus mostra que a “vingança” do Pai se forja com amor e misericórdia. Semelhante encontro/desencontro no maldito madeiro do sofrimento, no qual gestos negativos se chocam com o maior gesto positivo já conhecido, acende um fogo que nada e ninguém será capaz de extinguir.

A segunda razão do cuidado feminino tem a ver com o tema da Educação, refletido neste ano pela Campanha da Fraternidade. Para essas mulheres e para tantas outras pessoas, ao longo dos tempos, a travessia de Jesus pela face da terra e sua ignominiosa morte na cruz representam a escola mais sábia e sublime do amor e do perdão, como também do bem viver e da paz. Com razão, as mulheres e os homens que acompanharam os passos do Mestre em vida são chamados discípulos. Discípulos que, na linguagem do Documento de Aparecida, aprendem o valor do silêncio e da escuta, para se transformarem em missionários da Palavra e da Boa-Nova. A memória do perdão, que, em meio às dores mais atrozes, desce do alto da cruz como uma bênção e os gestos do Nazareno ao “percorrer aldeias e povoados” iluminam ao mesmo tempo a Encarnação e a Páscoa. Combinados, antecipam a vitória da vida sobre a morte, da luz sobre as trevas, da liberdade sobre a escravidão. O “Verbo que se faz carne e vem habitar entre nós”, por um lado, e o Ressuscitado “que é convidado a ficar conosco porque se faz tarde e o dia declina”, por outro, jogam um brilho novo não apenas sobre os livros da Sagrada Escritura, mas de forma particular sobre a dignidade da existência humana. No Mistério Pascal, encontram-se a luz e as lições que conferem novo brilho e novo sentido à vida e de cada pessoa, bem como a uma trajetória fraterna e solidária para toda a humanidade.

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