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Mês das vocações 

Estamos já às portas do mês de agosto, em que a Igreja no Brasil tradicionalmente nos convida a rezar pelas vocações. Por isso, nas próximas semanas, pretendemos dedicar este espaço a meditar, uma por vez, sobre cada uma das vocações especiais reconhecidas pela Igreja – mas no editorial de hoje, parece oportuno recordar o sentido geral da própria ideia de vocação, no Cristianismo. 

Uma primeira pista nos é dada pelo próprio nome “vocação”, do latim vocare, “chamar”. Antes, portanto, de ser um ato de iniciativa humana, a vocação é um chamado de Deus, uma escolha amorosa e gratuita que provém de seu poder criador. 

E Deus não apenas nos chama à existência, mas nos chama também à bem-aventurança, a um projeto de participar de sua vida e felicidade divinas, no Céu (cf. Catecismo, n. 1604 e 1703). Nesse sentido, Bento XVI alertava contra os perigos de um cientificismo radical: “Não somos o produto casual e sem sentido da evolução. Cada um de nós é o fruto de um pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um de nós é amado, cada um é necessário.” (Bento XVI, Homilia na Santa Missa de início do ministério petrino, 24/04/2005). Aquele chamado que Deus dirige ao profeta poderia ser dirigido a cada um de nós: “Antes que no seio fosses formado, eu já te conhecia; antes de teu nascimento, eu já te havia consagrado” (Jt 1,5). 

Além deste chamado geral que todos nós temos (e que poderíamos chamar de vocação à santidade), a Igreja foi também amadurecendo, ao longo dos séculos, a convicção de que a vida cristã se concretiza em formas especiais de servir a Deus e à Igreja. Nos primeiros séculos, falava-se apenas em vocação ao sacerdócio e à vida religiosa – tanto que, até mesmo no início do século XX, não era comum falar-se em “vocação matrimonial”. Nas últimas décadas, no entanto, cresceu a consciência de que também o Matrimônio e a vida leiga consagrada são formas concretas de assumir um compromisso de fidelidade e amor a Deus e às almas, e por isso são verdadeiras vocações. 

Diante desta riqueza de caminhos, pode ser que alguém sinta a tentação de desejar uma vocação que não é a sua. Um pai de família poderia pensar, “Puxa, é tão sublime a vocação de um padre, que traz Jesus à terra na Missa, e com sua absolvição abre as portas do céu ao pecador! Eu queria que Deus me tivesse chamado a ser sacerdote!”. Ou, no sentido inverso, uma freira poderia imaginar: “Como é maravilhoso ver essa mãe cercada de seus filhos e filhas, com o amor de seu marido! Que pena que Deus não me chamou para isso!”. 

Qualquer que seja a direção em que estas tentações possam vir, a resposta é sempre a mesma: a melhor de todas as vocações… é a sua! É aquela para a qual você foi criado: o caminho único e personalíssimo que Deus traçou como a rota mais curta e segura para levá-lo ao Céu. 

Além disso, também precisamos lembrar que, na Igreja, toda vez que Deus escolhe alguém para uma missão especial, esta eleição tem em vista o bem dos demais. Nossa Senhora foi “a escolhida” por excelência, escolhida para ser a própria Mãe do Salvador – e, no entanto, esta escolha não faz com que ela se encerre em um endeusamento de si própria, mas a torna Serva do Senhor e Mãe de todos os cristãos, intercessora e advogada nossa. 

Como dizia Santa Teresinha, se Deus dá graças diferentes para cada pessoa, e se nem todas as almas recebem a mesma medida de graças, isto se dá porque Deus quer fazer das almas o jardim de suas delícias – e nenhum jardim seria exuberante se tivesse todas as flores idênticas, por mais que todas fossem exuberantes como a rosa: “A perfeição consiste em fazer a vontade [de Deus], em ser aquilo que Ele quer que sejamos” (História de uma alma). 

Rezemos, então, por todas as vocações – e, de forma especial, rezemos para que Deus conceda, àqueles jovens moços e moças que ainda não discerniram sua vocação, a luz para que vejam o chamado divino, e a coragem para que lhe deem seu Fiat

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