Metaverso católico

Se você pudesse escolher entre a dura realidade ou viver melhor no mundo virtual, qual a sua opção? Esta questão está sendo colocada para todos nós. A possibilidade de escolha entre os dois mundos está se tornando realidade. A possibilidade de viver on-line, combinando realidade virtual, realidade aumentada, internet é conhecida como metaverso. O assunto teve muita repercussão desde outubro de 2021, quando foi anunciado que o Facebook mudou seu nome para “Meta”. Metaverso é um conceito trazido por Neal Stephenson, que em 1992 lançou seu romance intitulado “Snow Crash” (“Nevasca”, São Paulo: Aleph, 2008). Na sua narrativa, os humanos interagem em um ambiente completamente digital, onde a aparência de cada indivíduo é construída como desejada e se pode viver em imóveis digitais tão valiosos quanto os da vida real.

Essa ideia, hoje, é realidade. No metaverso, todas as pessoas podem consumir ou investir dinheiro nesse ambiente virtual, por exemplo, comprando imóveis. É isso mesmo. Qualquer um pode comprar uma casa no local desejado. Uma casa digital que pode ser visitada, ter festas, servir para encontros com os amigos. Sem dúvida, o metaverso aparece como uma das coisas mais empolgantes dos últimos tempos e em que muitos estão embarcando para não perder oportunidades, mas ainda é um campo que está em sua primeira infância. O fato é que as pessoas estão investindo dinheiro “real” no mundo “virtual”. Mais que isso: investindo tempo, crenças, ideias… vida no mundo virtual.

Essa situação tem levado algumas pessoas a uma nova maneira de ser ou, talvez, de parecer católico. Para o bem ou para o mal, no metaverso nós podemos ser quem quisermos, falar o queríamos, ter a aparência desejada, nos encontrarmos com pessoas que tenham a mesma opinião que a nossa e com o escudo do anonimato.

Isso traz um novo significado para a paróquia. Antes da pandemia, as pessoas escolhiam as paróquias de acordo com o local, a comunidade, o pároco e como a liturgia era realizada. No novo ambiente, a comunidade perde a força, o que interessa é o horário para “participar” da missa. O que provoca mudanças é a homilia e outras questões de como a liturgia está sendo conduzida. Agora temos a “paróquia virtual”. Esse ambiente virtual, entretanto, não permite a participação ativa dos fiéis, como preconiza o Concílio Vaticano II: “É por isso que a Igreja se esforça empenhadamente para que os fiéis cristãos não assistam a este mistério da fé como espectadores estranhos ou mudos, mas que, compreendendo-o bem nos seus ritos e preces, participem consciente, ativa e piedosamente na ação sagrada, sejam instruídos pela Palavra de Deus, se alimentem à mesa do Corpo do Senhor, deem graças a Deus; oferecendo a hóstia imaculada, não só pelas mãos do sacerdote, mas, também, em união com ele, aprendam a se oferecer a si mesmos e, por Cristo mediador, dia a dia sejam consumados na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em todos” (Sacrosanctum concilium, SC, 48).

Por outro lado, podemos ver a liturgia como o nosso próprio metaverso. A Liturgia terrena é antecipação da Liturgia celeste (SC, 8). Mas, diferentemente do ambiente virtual, na liturgia temos contato real com o sagrado. Além do que o recebimento de sacramentos não é possível virtualmente, somente com a presença física. O futuro nos dirá como aproveitar a nova era digital.

O mundo virtual nos propõe uma vida sem dores e feliz, mas a linha entre sonhos utópicos e ilusões perigosas é muito tênue.

guest
1 Comentário
Inline Feedbacks
Veja todos os comentários
Dener
Dener
2 anos atrás

Muito boa discussão. Ainda estamos na infância do Metaverso, o que significa dizer que viver nesse espaço virtual não traz todos os estímulos e possibilidades da vida real. Mas é, certamente, algo que temos de ficar atentos e nos organizar para compreender e enfrentar as novas mudanças.